Na última quinta-feira, o Banco Central divulgou novas projeções para a economia nacional em 2014 que se aproximam com os números citados por analistas e economistas nacionais e estrangeiros há quatro meses. Não houve qualquer pronunciamento do Ministério da Fazenda. Nem o ministro Guido Mantega nem a presidente Dilma deram declarações discordando das análises como aconteceu diante da divulgação do relatório da agência de classificação de risco Standard & Poor’s.
A projeção para o PIB de 2014 é de crescimento de 1,6%, ante a anterior de 2%. O Ministério da Fazenda projeta 2,3% e o mercado financeiro, na média, através do Relatório Focus, compilado pelo BC, projeta 1,4%.
A projeção para a inflação, medida pelo IPCA, em 2014 é de 6,4%, ante a anterior de 6%. O Ministério da Fazenda projeta 5,8% e o mercado financeiro, 6,41%.
Desde a criação do Plano Real que se discute a independência do BC, e mais uma vez esse assunto será um dos temas da campanha presidencial. Na prática, o BC é autônomo na sua atuação diária e na divulgação de suas projeções. E como as projeções são realistas, costumam diferir do otimismo natural que todo o governo tenta passar em termos de desempenho econômico. A credibilidade é fundamental para um banco central, já que ele é a autoridade monetária.
O que se espera agora são algumas atitudes ou medidas capazes de pelo menos confirmar tais projeções. As expectativas continuam se deteriorando e 2015 já tem, com certeza, seu primeiro trimestre comprometido em termos de crescimento e boa parte do ano com uma inflação sempre beirando o teto da tolerância de dois pontos percentuais acima do centro da meta.
Na última sexta-feira o Tesouro Nacional divulgou as contas do mês de maio e elas foram muito ruins. As receitas tiveram uma queda de 7,8% em relação ao mesmo mês de 2013, enquanto as despesas cresceram 17,8% no mesmo período. Foi o pior mês de maio desde 1997, e foi o pior resultado mensal desde dezembro de 2008, no auge da crise econômico-financeira mundial. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, recentemente “cutucado” pelo ex-presidente Lula, foi extremamente econômico em seus comentários durante uma entrevista coletiva, deixando em aberto possível captação de recursos no mercado internacional, o que ainda depende dos reflexos da situação de possível default da Argentina.
Sobre possíveis novas receitas extras para o Tesouro, o leilão da banda 4G e a abertura do novo REFIS ainda são estimativas. No entanto, sobre o pagamento de dois bilhões de reais por parte da Petrobras por nova cessão onerosa, ele foi mais realista do que a presidente Dilma, e numa frase com entonação até jocosa disse: “Dois bilhões são dois bilhões”.
Mais uma vez lembrando o relatório da agência de classificação de risco Standard & Poor’s manifestava pouca credibilidade na previsão do superávit primário dada pelo governo. Agora se observa que mais uma vez se lançarão mão de receitas extraordinárias para tentar alcançar os 1,9% do PIB, em vez de reduzir as despesas. Podemos esperar mesmo muita criatividade da presidente Dilma, conforme ela mesma falou no ano passado: “Em ano de eleição, se faz o diabo”.