Eu não disse?

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Eu não disse I

Uma das coisas que mais me enervava na adolescência era ouvir a famosa frase dita por pais e avós quando não seguia seus conselhos e algo dava errado: “Eu não disse?”. Hoje em dia, ao ver as manchetes dos jornais e os números do governo, rio sozinho com vontade de dizer ao governo a mesma coisa.

Ao final de 2011 e início de 2012, no auge da liquidez mundial, o ministro Mantega reclamou junto à comunidade internacional do que chamou de “tsunami cambial” e do excesso de dinheiro circulando no mundo. Muitos economistas e analistas nacionais e estrangeiros viram boa chance do país se firmar com reformas e atitudes por parte do governo.

Mas o ministro, ruim nos diagnósticos, e a presidente Dilma,  que é uma teimosa economista (vejam que há uma diferença entre economista teimosa e ela), foram para o caminho das atitudes unilaterais, tentando induzir forças de mercado e a iniciativa privada.

O Banco Central atuou na baixa da taxa básica de juros, e na compra líquida de dólares. Essa mistura não é boa se os demais preços relativos da economia não acompanharem, isto é, se a oferta de bens e serviços não seguirem na mesma intensidade. Da mesma forma, os incentivos fiscais somente para alguns setores não são “transferidos” para a economia toda. Então a fórmula do governo mais uma vez turbinou os gastos públicos, créditos de bancos oficiais e inibiu, por desconfiança. A iniciativa privada que viu o estado avançar nas suas atribuições e decisões.

A liquidez imensa não era e nunca será eterna, assim como o seu contrário, a interferência estatal não deve ser longa e a livre iniciativa deve prevalecer porque dela nasce o equilíbrio de forças.

Os juros baixos por imposição não trouxeram nenhuma repercussão; o dólar mais alto trouxe uma inflação que estava num patamar acima do centro da meta, mas mais bem observada, e o estado gastou mais do que podia e devia.

Eu não disse II

Atitudes independentes foram colocadas em prática em quase situação de desespero, como muitos avisavam. Baixa nas tarifas de energia elétrica sem estudos suficientes, pedidos de não reajuste de tarifas nos transportes públicos nas principais capitais, e o não reajuste dos combustíveis, colocando em risco a maior empresa do país e seu importante e enorme programa de investimentos.

Agora o ano de 2014 se inicia com o mundo inteiro desconfiando do país. Não estou tão pessimista assim; esses comentários são fruto da frase dos pais: “Eu não disse?”. Mas a desconfiança vem de um ponto importante no ano eleitoral. Se o PT está na frente nas pesquisas; se a possibilidade de reeleição da presidente Dilma é real, e se está claro que o ministro Mantega vive um desgaste com todos os setores da sociedade, quem conduzirá a economia em uma momento delicado, onde tudo está fora dos trilhos?

As previsões internas são ruins e a liquidez mundial vai diminuir bastante ao longo de 2014. Os números não melhorarão e a as promessas feitas em Davos, no Fórum Econômico Mundial, não se cumprirão. Como o governo conduzirá as expectativas dos investidores que ele diz que quer atrair?

A realidade não é boa. Dá para consertar, se houve coragem e vontade política, mas isso acarretará riscos eleitorais. Esse governo seria capaz de fazer isso?

A formação de condições para a Tempestade Perfeita no campo externo caminha rápido: liquidez menor no mundo, recursos saindo dos emergentes e menor crescimento da China. No campo interno, os números ruins se repetem.

Vamos esperar fevereiro passar rápido para o carnaval chegar e esfriar novamente os debates.

Mas bem que eu tenho vontade de dizer: “Eu não disse?”

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