“Fazem 41 graus à sombra aqui em Moça Bonita, uma tarde quente para um jogo de futebol!”
O radio de pilha de outro tricolor que também estava no trem, rumo ao jogo daquele dia, estava no volume máximo, na tentativa de superar o barulho da torcida e do vagão sem porta em que nos encontrávamos. Depois do apogeu da Máquina e do bicampeonato em 1975 e 1976, os quatro anos seguintes foram frustrantes para os fãs do Fluminense. Mesmo assim, não abríamos mão de ir aos jogos. Era 1978 e faltavam poucos meses para a Copa do Mundo da Argentina.
O estádio hoje conhecido como Proletário Guilherme da Silveira era e continua a ser chamado de Moça Bonita . Não que fizesse jus ao nome.Tinha pouquíssimo charme. Havia tumulto na entrada e PMs a cavalo tentavam em vão organizar a fila para a compra dos ingressos. Éramos seis. Designamos o mais velho e mais forte da turma para cuidar da missão de abrir caminho até a bilheteria, enfrentando a fúria de todos. Depois de 45 minutos, conseguimos entrar no estádio. Ainda faltava uma hora e meia para o jogo. O sol escorchante de verão castigava as arquibancadas, queimando a bunda de todo mundo. A torcida das Laranjeiras ficava de um lado do campo e a do Bangu, entre a tribuna social e as arquibancadas ao lado dela, do outro lado. Apesar do calor e do desconforto, era uma daquelas tardes que a gente gostava. Faltava só a vitória do Fluminense. E ela veio, sob a forma de um 2 X 1 apertado, suado, seguido pela cantoria tradicional. Mas a jornada ainda estava longe de acabar.
Ao deixarmos o estádio em direção à estação de trem, a torcida do Bangu apareceu procurando e, é claro, achando briga. Corremos para a composição que se encontrava parada à espera da torcida, prática usual como tentativa de evitar confrontos, mas de pouca eficácia. Entramos e nos deitamos no chão enquanto pedras voavam pelas janelas e pelas portas que não fechavam. Para nós, adolescentes então, foi uma aventura sem feridos. Para os padrões de qualquer época, porém, aquilo era um absurdo total.
A paixão pelo Fluminense me levou a assistir a jogos em quase todos os estádios espalhados pela cidade, na época em que se jogava neles: o Ítalo Del Cima, em Campo Grande, difícil de chegar e com um lixo de gramado; a Rua Bariri, do Olaria, conhecido como “alçapão”, acanhado mas sempre bem cuidado; Ilha do Governador, da Portuguesa, onde costumava ventar de forma espantosa – até gol de goleiro aconteceu por lá, se não me engano, isso aconteceu com o Flamengo; Teixeira de Mello, do São Cristóvão, onde a bola sempre acabava na rua; no falecido General Severiano do Botafogo, onde vi um amistoso com o River Plate em noite de muita chuva e de muita briga ao final; São Januário, do Vasco, onde é muito legal se ver os técnicos de perto, mas perde pontos por causa do concreto chapisco das arquibancadas. E, é claro, fui muitas vezes nas Laranjeiras, onde meu pai me levou para assistir a meus primeiros jogos e tive a oportunidade de observar como os senhores na social perdiam a educação diante de algumas jogadas terríveis perpetradas por um dos nossos. Não se sonhava em voltar a ter uma Copa no Brasil e a precariedade prevalecia mesmo.
Como torcedor, enquanto acompanho os preparativos e a implantação do chamado padrão FIFA para a Copa do Mundo, não posso me render ao saudosismo e à nostalgia pelos velhos tempos. A estrutura para os frequentadores melhorou muito, é inegável. Sinto saudade das farras da adolescência, dos cachorros-quentes com mate e do ambiente da torcida, que me fascina até hoje. Mas assistir ao espetáculo confortavelmente instalado é outra coisa. Nem vou discutir se o país tem ou não condições de sediar o torneio. Era uma discussão para seis anos atrás. Quanto à qualidade do futebol que se vê em campo… Bem, esse é um outro assunto.
É verdade, o Bangu chegou a ter um grande time; do Olaria não me lembro. No América também tinha o Edu (irmão do Zico), Orlando Lelé, o Tadeu (depois Flamengo) e o Gilson Nunes. Tremendo time … Agora sim fiquei com inveja, pois ir aos estádios pequenos com o Mario Maluco deve ter sido impagável…
Impagável e perigoso, pois não tínhamos cinto de segurança a época e era uma aventura sentar-se no banco do carona.
O futebol a esse tempo era mais alegre. Eu era uma torcedora mais alegre, e amava meu maraca daquele jeito mmo. Beijo
Sem dúvida era mais alegre e éramos novinhos e não havia nada melhor que o Maraca, mas o conforto era zero. Bjs.
Nos anos 70 fui a muitos jogos do Flamengo, especialmente em 1974, quando fomos campeões cariocas. Nessa época havia 5 grandes clubes no Rio … O América tinha um tremendo time. Curiosamente nunca fui a um jogo nos estádios pequenos do Rio … Sempre fui ao Maracaña, na velha e muito divertida arquibancada. Sinceramente não me lembro de jogos do Flamengo nessa época fora do Maracanã. Mas lembro de rodadas duplas no meio da semana (2 times grandes enfrentando 2 times pequenos). De qualquer forma, fiquei com vontade de ter vivido as experiências que você como sempre descreve à perfeição em seu artigo. Um abraço!
Cheguei a ir a jogos do Flamengo com Mario Maluco nesses estádios pequenos. Em um determinado momento não tinha jogos fora do Maracanã, depois voltaram a fazer jogos nos campos pequenos que era a chance desses times fazerem algo. Além do América da década de 70 com Braulio, Ivo e Luisinho (depois no Flamengo), vi grandes times do Olaria com Afonsinho e Bangu que decidiu o Brasileiro de 84 com o Fluminense. Fui a muitas rodadas duplas. A gente torcia pros pequenos nos jogos que não era dos nossos times. Era muito bom, pelo preço de 1 jogo, dois e melhores dos que hoje em dia. Abs.