Invista, não desista!

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LP IV

Está na primeira página dos livros de educação financeira que os investimentos devem se basear no triângulo formado por segurança, liquidez e rentabilidade. O investidor deve observar seu perfil e necessidades, e buscar alternativas que satisfaçam essas três linhas-mestras.

No entanto, a história econômico-financeira recente do país é muito acidentada, com inflação de dois dígitos ao mês, diversos planos econômicos, várias moedas, confisco de recursos e quebra de bancos, o que leva a população a priorizar a segurança e compreensão total de suas aplicações, para em seguida pensar na liquidez, abrindo mão algumas vezes da rentabilidade. Isso também ocorre por falta de informação, levando poupadores a serem confundidos com investidores e esses deixando de ganhar o que poderiam, sem correr riscos. Mas o que vejo de fundamental entre nós é a desconfiança no futuro. Quando se trata de investimentos, a expressão “no longo prazo estaremos todos mortos” é de um egoísmo muito grande. O brasileiro não confia no amanhã e costuma lançar mão de outro lugar-comum: “o futuro a Deus pertence”. Isso não se discute, mas também não invalida a intenção de se investir a longo prazo.

A incoerência que cerca o nosso comportamento é tanta que somos capazes de assumir dívidas por 25 a 30 anos para comprar um imóvel que não sabemos se teremos condições de pagar, mas não conseguimos juntar dinheiro nesse mesmo período. A explicação talvez seja o fato de sempre haver no horizonte a possibilidade de perdão da dívida, como acontece constantemente com relação a impostos atrasados, ou mesmo uma renegociação dos valores devidos junto aos bancos por quantias bem inferiores ao saldo devedor.

Acontece que essa característica atrapalha de maneira bastante importante o país. A poupança interna, traduzida em compra de títulos de longo prazo, compra de ações em IPOs, debêntures ou mesmo títulos de bancos de mais de três anos é muito pequena para as necessidades de investimento das empresas. O resultado é um endividamento externo que sempre traz incertezas, pois gera uma obrigação em uma moeda sobre a qual não temos controle.

Mas será que é somente o passado que nos condena a não ter poupança de longo prazo?

Claro que não. Trazemos conosco também a cultura de quem nos colonizou, em que o imóvel é o grande investimento, e jamais a sociedade de pessoas. No Brasil, é comprovado que se prefere abrir negócios em sociedade com membros da família e não com terceiros. E os investimentos são realizados por meio de empréstimos bancários e nunca com recursos de mais sócios. Essa característica faz com que quase 45% dos novos negócios não cheguem a completar dezoito meses.

É fundamental que os governos incentivem a poupança de longo prazo e que definam que este prazo seja realmente longo, algo como no mínimo cinco anos, e que também criem mecanismos para maior captação de recursos para as empresas que queiram abrir seu capital.

O problema reside no fato de que como os governos são totalmente dependentes de qualquer poupança (seja de curto, médio ou longo prazo), não há interesse deles em criar “concorrência”.

Então voltamos ao mesmo ponto inicial, a segurança e a liquidez do governo superam a intenção de ganho do investidor, que se sujeita a receber menos, mas para ele, “garantido”, do que correr um risco calculado e analisado e ganhar mais.

Não há apologia de riscos elevados, mas fica a pergunta, porque o governo ofereceria mais garantias do que uma empresa que existe há cinquenta anos?

Alguns responderão rapidamente, “o governo não quebra” e eu devolvo, “mas confisca”.

Então, fica a dica: boas empresas dão mais retorno e tanta segurança quanto o governo. E na hora de aplicar recursos, é preciso ter a mesma confiança que se tem ao tomar empréstimos.

 

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