Labirinto de papel

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Burocracia IV

Praticantes de meditação e monges budistas poderiam usar seus ensinamentos para ajudar  os mortais brasileiros a não se estressarem quando buscam seus direitos ou requisitam serviços em quaisquer órgãos dos governos municipal, estadual e federal ou ainda nos cartórios.

Há uma placa com o alerta que ofender um funcionário público é passível de prisão. Saibam que não se trata de um simples aviso:  é uma antecipação dos ímpetos aflorados após horas de descaso e desinformação. A agressão física a todos os responsáveis pelo atendimento será o menor dos crimes que qualquer um pensará em cometer.

Ao analisar o desenvolvimento das comunicações em cinquenta anos e verificar que ainda há a necessidade de reconhecimento de firma por “autenticidade”, isto é, uma assinatura feita diante de um funcionário do cartório, acredito que ao sair da repartição avistarei na Avenida Rio Branco liteiras e esgoto a céu aberto.

Prazo, esta palavra mágica adorada por advogados, funcionários públicos, de empresas de serviços, do judiciário e atendentes de cartório é algo que leva o cidadão comum à camisa de força no manicômio judiciário ou a um campeonato mundial de corrida de obstáculos para conseguir todos os documentos exigidos, com inúmeros carimbos e solicitações estapafúrdias.

Burocracia III

Vejam o caso do Rio de Janeiro, tive os documentos roubados em um pequeno assalto a mão armada em uma linha de ônibus na Lagoa, algo corriqueiro.

Ao acessar o site do serviço Poupatempo (irônico nome), me deparei com a seguinte pergunta: “Seu documento era emitido pelo Detran-RJ ou pelo Instituto Felix Pacheco?” Cliquei na segunda opção  e fui surpreendido ao descobrir  que deveria apresentar mais uma vez minha certidão de nascimento e minha certidão de casamento averbada (depois aprendi o que isso queria dizer: com o registro de minha separação).

Abandonei a máquina e resolvi ligar para o número que o site gentilmente apontava para dúvidas. Recebi uma resposta inusitada: “Todos os dados do Instituto Felix Pacheco foram perdidos”. Conclusão: se eu tivesse cometido um crime e deixado minhas impressões digitais, jamais me encontrariam pois eu era um alienígena.

Dirigi-me ao cartório para solicitar os documentos. Para minha grata surpresa, de posse do Boletim de Ocorrência não paguei por nova Certidão de Nascimento — sim, por descuido meu, descobri que havia perdido a original – mas em compensação, pela módica quantia de 77 reais eu teria a minha Certidão de Casamento com a observação de que estava separado.

Ao comparar os dois documentos, constatei que as informações eram idênticas. Afinal, não mudei minha filiação, meu nome ou minha data de nascimento. De passagem, entre chegar ao cartório, pegar uma senha e solicitar os serviços, aguardei pacientemente cinquenta minutos.

Inventário, o terror dos que ficam neste plano espiritual. As agruras são tantas, os documentos e taxas são tantos e caros que muitas vezes imagino-me doando algo ao governo, pois é mais barato que desenrolar a burocracia e vender.

Advogados, donos de cartório e despachantes, são seres que não foram criados como os demais. Apareceram na Terra, segundo a teoria do livro Eram os deuses astronautas, e desde então se reproduziram em cativeiro em velocidade espantosa. Com eles, exigências e dificuldades se resolvem demaneira mágica ou com algo chamado “taxa de urgência”. Conselho: Tenham sempre cópias de documentos. Providenciem tudo com antecedência em termos de herança, pois a NASA está próxima de descobrir que os buracos negros do espaço ficam nos cartórios e aí perderemos nossas identidades!

 

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