Lanche ou refeição

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lanche ou refeição IV

— Quem come em pé é cachorro!

A frase que costumava ser dita por meu avô numa demonstração de seu desprezo pelos sanduíches do Bob’s, primeira cadeia de fast food do Brasil, que fazia imenso sucesso desde a década de 1950 e que reinou sozinha durante muito tempo. Não há quem esteja na faixa dos 45 aos 70 anos e que não saiba de cor a lista dos itens mais populares do cardápio, como o famoso queijo quente com banana e o milk shake de Ovomaltine, que tem seus fãs até hoje. Naqueles primeiros tempos, passar no Bob’s era um programa para o pessoal mais jovem. Seus hambúrgueres não ameaçavam o hábito de se almoçar com calma mesmo nos dias de trabalho, muitas vezes até na própria residência. Não passava de um lanche. Comida de verdade era mesmo bife, ovo, arroz com feijão, como não paravam de repetir os pais e os avós.

Lá pelos anos 1970, o MacDonald’s era o sonho de consumo dos poucos adolescentes que viajavam para os Estados Unidos nos tempos do depósito compulsório, nunca devolvido, instituído por Mário Henrique Simonsen devido à escassez de dólares. Isso explica o alvoroço causado pela inauguração da primeira loja da rede no Brasil, na rua Hilário de Gouvêa, entre Barata Ribeiro e Nossa Senhora de Copacabana, no coração do bairro. No verão de 1979, a juventude carioca fazia fila na rua. Acredito que a conversão ao fast food começou naquele momento.

Não sei se foi uma coincidência, mas esse tipo de comida ganhou força com a chegada dos primeiros grandes shopping centers no Rio e em São Paulo. O novo consumidor se adequou ao cardápio pequeno e fixo, que tinha como grande característica manter o mesmo sabor dia após dia em qualquer lugar. É claro que a dificuldade de locomoção, o aumento das horas de trabalho, preço e o modismo também contribuíram para a adesão. Pessoalmente, acho que nada substitui uma boa refeição feita à mesa, mas devo confessar que, se pudesse, de vez em quando me atracaria a um Big Bob ou Big Mac, dependendo do que estivesse por perto.

Lembro-me que quando comecei a trabalhar, no início dos anos 1980, via senhores de paletó e gravata, recém-saídos do fórum, cantando a musiquinha do sanduíche Quarteirão com Queijo do MacDonald’s, só para ganhá-lo de graça. Era a prova de que tínhamos sido pegos pelo estômago ou, pelo menos, havíamos capitulado diante da rapidez, simplicidade e facilidade daquela comida.

Claro que as críticas à qualidade dessa alimentação não tardaram a aparecer. Em poucos anos, constataram que uma dieta à base de fast food faz mal à saúde. Confesso que me sinto perdido diante de tantas pesquisas que já nem sei o que faz mal. O chocolate e o ovo, por exemplo, passam de heróis a vilões a cada semana, dependendo do local de estudo.

Mas definitivamente ficou incutido o conceito de comer rápido, mesmo se limitando a sanduíches ou pratos prontos. O brasileiro não se incomoda ou se rende à necessidade de fazer refeições em vinte minutos, o que é ruim independentemente da qualidade da comida.

Hoje estou mais para o movimento Slow Food criado na Italia em 1986 que prega: É inútil forçar os ritmos da vida. A arte de viver consiste em aprender a dar o devido tempo às coisas. (Carlo Petrini, fundador do Slow Food).

Não sei se conseguirei algo parecido, mas vou tentar.

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Sem comentários

  • VICTOR HUGO disse:

    GRANDE país, a Itália! De lá também me parece ter vindo a Teoria do Ócio Criativo, de um tal Domenico de Masi o que, para quem já virou a página dos 50/60, tem muito a ver!…

  • Também vou de slow food Mauro….. As vezes na rua não dá…. Por isso quando almoço na rua procuro fazer isso com muito boa companhia ou sozinho…. Com uma companhia ansiosa e apressada não dá mesmo para ir no meu ritmo….. Mas que de vez em quando…. Bem…. Ontem comi um Big Mac, guaraná, batatafrita e um sundae de chocolate…. rsrsrsrsrs….

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