O intrépido prefeito Eduardo Paes, administrador da cidade do Rio de Janeiro, ignorando o que é andar de ônibus na sua cidade, criou há três anos algo com um nome pomposo, o chamado Bus Rapid System (BRS). A ideia era organizar a distribuição dos pontos de ônibus para racionalizar o fluxo dos veículos e melhorar o trânsito. Vã ilusão. O extraordinário sistema implantado pela prefeitura obriga os cariocas a treinar diariamente algumas modalidades esportivas, por certo levando em conta que o Rio receberá dentro de pouco mais de dois anos os Jogos Olímpicos.
Tome, por exemplo, os diversos pontos de ônibus instalados diante do shopping RioSul, onde milhares de pessoas tentam entrar e sair dos veículos públicos. Já comentei aqui sobre a velocidade que nossos pilotos imprimem aos “carros” (em Emoções desenfreadas), logo a tarefa dos passageiros em nada é facilitada.
Para situar aqueles que não moram no Rio, é preciso dizer que os pontos de ônibus em questão ficam em uma curva na saída de um túnel. Isto quer dizer que o passageiro necessita da precisão de um atirador de longa distância para fazer um sinal frenético para o bólido que sai de surpresa do túnel, no afã de que ele pare.
O sistema BRS numera a região de tráfego dos ônibus de 1 a 4, mas os pontos na frente do shopping têm a seguinte configuração: 2, 3, 1, 4. A dedução mais simples para explicar a esdrúxula combinação é de que existe um complô não apenas contra os analfabetos, mas também contra todos aqueles que ousam basear seu raciocínio na lógica. Mas Eduardo Paes é um menino travesso.
Os ônibus jamais param em seus pontos! Repito: jamais param em seus pontos. Isto promove corridas de 50m a 100m disputadas pelos passageiros. Não se trata de uma corrida qualquer, em que todos tomam a mesma direção. Cada um dispara em rotas próprias, promovendo uma espécie de corrida com obstáculos e colisões. Mas não para por aí. Existe também a necessidade de se desviar dos passageiros parados nas calçadas, ocupados em espreitar suas conduções com olhos de lince, e ainda de evitar o choque com aqueles que descem de surpresa dos ônibus. Se a corrida acontece junto ao meio-fio, é preciso ficar de olho na retaguarda, pois corre risco de atropelamento! Ou seja, o ato de embarcar em um ônibus no Rio daria argumento para criar um videogame do tipo Mario Bros.
O nativo disputa essas provas sempre com exclamações que expressam sua religiosidade característica:
— Ai meu Deus, parou longe!
— Ih Jesus, não vai dar para pegar!
— Nossa Senhora, quanta gente para entrar!
Agora, há algo a se dizer em favor dos motoristas. Apesar dos enormes letreiros na frente dos carros que indicam o destino, por exemplo, Praça 15, é frequente que um cidadão faça o sinal, obstrua a entrada de outros passageiros apenas para perguntar se tem parada na Central.
Como os pontos ficam na saída de um shopping, e prédio comercial, observo como ficam absolutamente atordoados os turistas brasileiros e estrangeiros que se arriscam a participar dessas cenas: nos primeiros dez minutos têm dificuldade para entender onde devem esperar o ônibus desejado. Depois se sentem perdidos, pois veem o dito cujo e não conseguem se aproximar. No momento seguinte, bate o desespero, pois se sentem idiotas; e finalmente desiludidos, tal qual os nativos.
Não há o que fazer. É cultural. A falta de disciplina dos habitantes, agravada pela indiferença dos governantes retroalimenta essa bagunça organizada chamada transporte público carioca.
As alternativas são patéticas: taxis com vidros escuros que escolhem passageiros, vans de todo o tipo e ônibus alternativos para quem mora naquelas outras cidades chamadas de Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. Tudo contribui para o tom caótico do trânsito. Igual a esse ponto de ônibus do RioSul existem muitos outros, mas o travesso alcaide anda com motorista ou pega o helicóptero junto com seu amigo Sérgio Cabral nos dias em que o cachorro Juquinha não pode embarcar. E é claro, ele também gosta de se exibir na bicicleta. Ciclovias! Isso é assunto para outro dia.