O que não se divide

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Seria mentira se eu dissesse que faço algumas coisas sem querer. Até aqueles que me conhecem apenas superficialmente saberiam de cara que eu estaria tentando me enganar, em vão. Tenho andado por onde andamos. Não me esforço para entender o que aconteceu. Sei perfeitamente dos meus erros e dos seus enganos. Escuto suas gargalhadas, sinto seu perfume, vejo seus olhos, sinto suas mãos me fazendo cócegas. Rio sozinho lembrando o quanto era moleca.

Não havia percebido em que armadilha havia caído. Fui ingênuo apesar da idade. Você sabe o quanto ficamos idiotas quando nos apaixonamos, e eu estava apaixonado por mim.

Tenho os nossos últimos diálogos na cabeça e, na ponta da língua, aqueles que eu queria que ainda acontecessem. Tenho as paisagens de cada lugar para onde fomos gravadas como cartões postais na cabeça — os lugares com que sonhamos estão reservados em algum espaço paralelo a nossa espera.

Não estou delirando ou idealizando, como diriam aqueles que por algum motivo não me entendem.

Tínhamos várias músicas; cantávamos os trechos que nos diziam coisas importantes. Saiba você que tenho umas dez novas. Algumas são até legais; outras, reconheço, melosas demais, mas que serviriam para aqueles finais de noite, depois de misturarmos lençóis, colchas, travesseiros e tudo mais, quando sempre ficávamos mais emotivos, até bobos.

A cada cappuccino que tomo, lembro-me de como você gostava de misturar a espuma do leite até dissolver, mesmo quando eu pedia que não fizesse isso. Cada coisa mais boba que passa na minha cabeça! Isso só mostra o quanto é difícil te esquecer. É um sentimento que não consigo definir. Claro que ainda te amo, mas não é como era. É um sentimento egoísta que não pode ser dividido nem com você, porque sei que na hora que aparecer estragarei tudo de novo.

Você estudando para as provas da faculdade, de rabo-de-cavalo e camiseta comprida; eu, lendo relatórios sobre economia. Era delicioso estar ali, mas olhando com clareza e frieza, o quadro estava fora de sincronia. Seu sorriso era de quem estava com um mapa novo nas mãos, pronta para descobrir o mundo. Àquela altura, eu já trocava o meu quarto ou quinto mapa, e nem sabia que existia GPS.

Quando fui busca-la para morar dentro de mim, procurei fazer do meu coração o lugar que você sempre quis. Mas esqueci de dizer que ele não batia sempre do mesmo jeito e que, mesmo sendo coração, sabia magoar, e pior ainda, é incorrigível. E quem sofreu fui eu.

Ao pisar nas suas pegadas, te procuro mas sinto medo de achar e de não saber o que dizer. No fundo, não sei fazer outra coisa senão procurar. Está mais do que na hora de me achar, sei disso. É a resposta racional, mas sou totalmente irracional quando se trata de você. O preço é alto demais e decidi não pagar.

E como li outro dia: “Felicidade é escutar uma música e não pensar em ninguém”.

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