— Você olha mais pra bunda ou mais pro peito delas na praia?
A pergunta foi tão despropositada quanto desconcertante.
Estávamos juntos na praia pela primeira vez e mal havíamos nos sentado na canga quando veio a indagação.
Por trás dos óculos escuros, deu para esconder parte do espanto. Já minha mudez se prolongaria por mais alguns segundos.
Nós nos conhecíamos havia pouco mais de um mês, e começamos a namorar em uma festa dez dias antes. Ela tinha olhos grandes, atentos, que espremia ao olhar para longe. Não usava óculos. “Não enxergo só de vez em quando”, dizia. Cabelos castanhos claros, curtos, nos quais estava sempre mexendo. “Ainda não me acostumei com eles curtos assim”.
Falava sempre sorrindo, e como falava. Fui atraído pelo seu olhar, pelo fato de conversar sobre tudo e pelo corpo escultural, não necessariamente nessa ordem. E era a primeira vez que eu namorava uma menina mais alta que eu. Antes na paquera, sempre que nos víamos havia troca de sorrisos, brincadeiras, gestos, piscadas e alguns toques de mão trocados, então ainda não nos conhecíamos o suficiente para uma pergunta tão perigosa, feita à queima-roupa, ainda mais com ela ali na minha frente de biquíni, nem tão minúsculo, mas podia dizer que era menor que pequeno. Nem tinha conseguido olhá-la direito e já era confrontado.
Como eu, ela não gostava de chegar tarde na praia. Estávamos em um local ainda um pouco deserto, o que serviu para que olhasse para os lados, tentando disfarçar antes da resposta.
— Então, prá onde mais?
Ela insistiu agora com uma ponta de ironia e um sorriso nos lábios.
Eu ainda não tinha conseguido uma saída.
— Vai, a pergunta nem é tão difícil assim. Quando me viu olhou para onde?
— Para os olhos.
Respondi rápido e era a mais pura verdade.
— Que “bunitinho…”
Respondeu fazendo biquinho.
Ela tinha certeza de seus atributos físicos e eu estranhamente comecei a ficar incomodado com isso. É claro que sou fã de um corpo feminino bonito, mas realmente faz parte de um pacote e não é o ponto principal.
— Você é o primeiro baixinho que namoro, mas seu físico também me atraiu…
A frase não foi feliz ou talvez eu quisesse também conversar como havíamos feito nas vezes anteriores.
Foi um namoro de primavera. Ela era inteligente, mas sua beleza se sobrepunha nos relacionamentos e usava isto de maneira não tão brilhante. E eu não soube lidar com a beleza dela.
Passou como passam diversas moças com peitos e bundas bonitos, que eu, distraído, muitas vezes nem reparo.
Ah. E o que olho primeiro são os olhos e a boca, sempre.