Admiro frasistas.
Eles têm a capacidade de resumir a vida num pequeno conjunto de palavras.
Uma boa frase pode ser usada em qualquer ocasião, com diversas interpretações e entonações. Serve até como assunto em festinha de criança.
Um dos melhores frasistas do futebol na atualidade é o eterno técnico do São Paulo e sucessor de Telê Santana, Muricy Ramalho, que para mim, se eternizou com duas pérolas. “A bola pune, meu!”, proclamou ao justificar uma derrota do São Paulo, numa espécie de releitura da famosa frase de Neném Prancha (“Quem não faz leva”). Em outra ocasião, soltou: “Isso aqui é trabalho”. Dirigia-se à torcida do tricolor paulista, batendo no braço após uma virada do seu time.
Ainda no esporte, entre as frases inesquecíveis, ressuscito a polêmica que tomou conta do país ao final da década de 1980 e início da de 1990. Para mim, Nelson Piquet foi o melhor piloto de Fórmula 1 do Brasil, e ao falar sobre pódio e vitórias imortalizou as seguintes palavras: “O segundo lugar é o primeiro dos últimos”.
Acredito que a política produz as melhores e piores frases. Os políticos, às vezes inspirados ou irados, dão o melhor de si para impressionar ou pressionar. E não é privilégio nosso. O presidente americano John Kennedy exortou o patriotismo de seus conterrâneos em seu discurso de posse como o inesquecível “Ask not what your country can do for you, but what you can do for your country”. Também muito feliz foi o mote da primeira campanha do presidente americano Barack Obama: Yes, we can. Sim nós podemos. Simples e passível de ser aplicado a todas as lutas.
No Brasil, em contrapartida, contamos com um elenco nada estelar. Paulo Maluf, por exemplo, um dos símbolos do que há de pior no cenário político do país, cunhou uma frase que demonstra sua dissonância com qualquer coisa normal: “Estupra mas não mata”. Referia-se a um assassino que cometia abuso sexual em São Paulo. Já nosso ex-presidente Lula, um self-promoter nato, imortalizou o bordão em dois mandatos, usado para enaltecer seus feitos nem sempre finalizados: “Nunca na história desse país…” O que poderia ser perfeitamente aplicado aos últimos escândalos de corrupção do PT.
A presidente Dilma, já reeleita para um segundo mandato, não tem sido muito feliz nos seus discursos, produzindo verdadeiras peças para a posteridade. Por exemplo, no Dia das Crianças de 2013 ela disse: “ Se hoje é o Dia das Crianças, ontem eu disse, que criança, o Dia da Criança, é o dia da mãe, do pai, das professoras…” Melhor parar por aí. Talvez estivesse certa a famosa frase nunca dita pelo presidente francês Charles De Gaule, pois sempre soou, soa e soará perfeita: “Le Brésil n’est pas un pays serieux”. O Brasil não é um país sério.
Não esqueçamos da ex ministra do turismo, Martha Suplicy, ao comentar o atraso nos vôos no país: “Relaxa e goza” que se referia ao fato de que mesmo atrasa ao chegar o turista deveria, digamos, relevar o atraso.
Para encerrar o capítulo político, Getúlio Vargas, na sua carta-testamento, deixou cunhada a frase que é repetida em todos os nossos livros de história recente: “Deixo a vida para entrar na história” um tanto quanto megalomaníaco.
Talvez o melhor frasista nacional seja o escritor Nelson Rodrigues. Dele separo duas em especial. A primeira sobre futebol: “Pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”. E a segunda que mostra a essência do seu sarcasmo e deboche: “Invejo a burrice, porque é eterna”.
No campo da economia, ex-presidente do FED (Banco Central Americano) tornou conhecida uma expressão que, na minha opinião, o livra de grande parte da culpa que lhe é atribuída pela crise de 2008 no mercado financeiro. Nos anos 1990, por conta do crescimento americano e alta forte das bolsas por lá, ele chamou a atenção ao falar da “exuberância irracional” dos preços das ações.
Não podia terminar sem uma frase da genial escritora genial, Clarice Lispector: “Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome”.
Até a próxima lista.