Perfume de mulher

Não consegui me livrar das lembranças de seus perfumes. A memória decidiu gravá-los, de forma implacável. Às vezes tenho raiva disso, mas entendo que não há como não lembrar.

Cada estação tinha seu próprio aroma, que combinava perfeitamente com o clima, sua pele, seu cabelo e, delicioso e tentador, ele se espalhava no ar por seus gestos.

Quando acordava a cada manhã, o quarto rescendia ao perfume daquela estação. Tão adequada era escolha, que tudo parecia simples e a sensação fazia bem até para a alma. Às vezes eu perguntava como era possível, aquela combinação tão perfeita. Em resposta, recebia apenas sorrisos meio disfarçados, felizes, mas um tanto enigmáticos.

A paixão por uma mulher que guarda segredos tinha suas dificuldades, mas o mistério fazia parte do jogo de sedução. À noite, ao deitar a seu lado, eu acariciava seu cabelo antes de dormir e acreditava que amanheceria com o cheiro da estação em minhas mãos. Mas isso não acontecia. Era como se tudo pertencesse a ela e a suas roupas.

A primavera era sutil, leve, deixava no ar apenas um leve traço. Era preciso respirar fundo. Ela passava pela manhã e um pouco à noite após o banho. Combinava com as camisolas em tons pastéis, ainda com manga.

Um robe pouco abaixo do joelho traia algum receio da friagem matinal. No verão, uma presença mais cítrica, quase como uma colônia refrescante, aplicada várias vezes ao dia. Roupas frescas e muitos sorrisos por estar desfrutando da melhor estação do ano. O cheiro combinava com o pós-praia.

Aromas mais fortes no outono, que ela passava pela manhã. O toque de frutas secas permanecia o dia inteiro. Ao dormir, ela se cobria mais, desafiava o frio ainda com camisolas, mas o robe era mais comprido, de uma única cor, acolchoado.

No inverno, o perfume era marcante. Mudava até a expressão do rosto e o movimento do cabelo. Anunciava sua chegada e prolongava sua partida. Na hora de dormir, era difícil flagrar partes do corpo expostas. Circulava pela casa em pijamas de flanela. Mesmo assim, preservava um ar juvenil. Ou seriam os meus olhos?

E mais um ciclo se fechava. Eu aguardava as surpresas do que viria a seguir, sempre fascinado pela sua infinita capacidade de encontrar novas formas de me atrair.