Folclóricos, engraçados, emburrados ou abusados. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser aplicados aos motoristas de táxi pelo mundo afora. Para os turistas, podem ser a primeira impressão que levarão da cidade que visitam, tanto que um bom guia de viagem sempre conta com um capítulo informando como se comportar e acompanhar os trajetos e as tarifas. Para os locais, servem como uma fonte inesgotável de notícias sobre política, futebol, novelas e até para a disseminação de lendas urbanas.
Como já expliquei anteriormente, não dirijo. Por isso, sou um usuário frequente do serviço. Ao voltar para o Rio, precisei me acostumar com algumas particularidades muito diferentes daquelas de São Paulo. A batalha começa quando se tenta descobrir se a viatura está livre ou não. Por aqui, não há vidro fumê e sim uma película negra que reveste todas as janelas do veículo. A saída é se passar por maluco e abanar o braço para todos os carros amarelos à vista, até que algum deles resolva parar. No volante, o motorista costuma envergar o mesmo uniforme utilizado pelos demais habitantes da cidade, constituído por bermuda e camiseta, mas em vez de sandália Havaianas, usa algo diferente no pé. O que nunca pode faltar são os óculos escuros na testa no alto da cabeça ou mesmo na nuca. Óculos na nuca, aliás, é coisa que até hoje não consigo compreender. Quando eu era criança, eles dirigiam como os motoristas de ônibus, com calça comprida dobrada até o joelho, camisa meio aberta e uma flanela no pescoço.
Outra característica local é a intimidade imediata. Depois de cinquenta metros de corrida, você já pode ter a sensação de ser um amigo de infância do sujeito ao volante. Há exceções, claro, em especial no que diz respeito àqueles que trabalham nos aeroportos e na rodoviária, para quem o passageiro parece mais uma presa do que um cliente. Na minha experiência, os taxistas cariocas conhecem a cidade e não tem o hábito de fazer aquela fatídica pergunta de quem está meio perdido e não quer demonstrar: “Qual o caminho que o senhor prefere?”
Outro dia ao entrar num carro não pude deixar de reparar na quantidade de apetrechos tecnológicos a bordo, coisa de dar inveja para muita cabine de avião por aí. Além daqueles relógios todos no painel – que ainda não sei para que servem – havia GPS, televisão em que o profissional assistia e escutava – não necessariamente nessa ordem – um insuportável programa vespertino, celular com aplicativo que informava possíveis corridas que teria caso estivesse vazio e um tablet para entrar no Facebook. Se o trânsito estivesse bom, com certeza ele bateria a cada 45 segundos. Mas do jeito que as coisas andam (ou não andam), dá para prestar atenção em tudo e ainda sobra tempo para fazer aquela famosa pergunta para o passageiro:
— O senhor acha que esse país tem jeito?