Um esporte esquisito e adorável (para mim)

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Baseball III

Entre os nove e os dez anos de idade morei nos Estados Unidos, em Evanston, uma cidade universitária à beira do lago Michigan, a trinta minutos de trem de Chicago. Corriam os anos de 1968 e 1969, e hoje consigo entender melhor algumas coisas que aconteceram. Chicago era o berço dos  Black Panthers, movimento dos negros americanos liderado por ativistas como Angela Davis.  Por isso na minha primeira semana no colégio, fui “questionado” por um grupo de alunos negros que não entendeu muito bem de onde eu vinha, achando que era do sul dos Estados Unidos e não da América do Sul, algo totalmente inverossímil geograficamente para eles. Como isso foi logo na chegada, meu inglês macarrônico dificultou as explicações, mas tudo terminou bem, sem ferimentos; só fiquei sem o lanche do dia. Mas a redenção estava por vir e eu ainda seria alçado ao posto de celebridade da turma.

Quando cheguei com minha mãe e meu irmão, dois dias antes do Natal, meu pai já estava fora havia três meses. Como tinha conseguido boas notas no 1st quarter, sua bolsa de estudos foi mantida e a família foi encontrá-lo. Fazia uma frio desgraçado. O primeiro dia foi para compras de equipamentos contra o frio. Aquilo não eram roupas e sim ferramentas para suportar temperaturas muito abaixo de zero quando dois dias antes eu tinha ido à praia no Rio de Janeiro.

No colégio, a educação física neste período era dentro do ginásio. Tinha um jogo que reproduzia o beisebol com os pés e se jogava com uma câmara de bola de basquete. É complicado de explicar mas o ponto importante era que pressupunha chutar a tal da bola o mais longe possível. Quando percebi que poderia inclusive pedir para rolarem a bola até minha perna direita, acreditem, fiz a festa. Chutei a bola do outro lado do ginásio, na parede, mais alto que altura da tabela de basquete. Só faltaram gritar Caramuru!!. A partir daí me tornei The King, mas resolvi que queria saber como era o beisebol de verdade.

Quando a temporada começou, fui torcer, é claro, pelo time mais famoso de Chicago, o Cubs. Via todos os jogos pela TV, para desespero do meu irmão que detestava e precisava assistir quase que por falta de opção. Eram dois os ídolos: o 1st base Ernie Banks e o 3rd base Ron Santo, figurinha dificil de conseguir, mas que eu tinha.

Baseball I

Onde morávamos, o dono da casa ganhava ingressos para todos os jogos do time em Chicago. Ted, o caçula da família, soube o quanto eu gostava do esporte e começou a me convidar para ir ao estádio, o centenário Wrigley Field, o do chiclete mesmo, aquele que nós cinquentões consumíamos como a oitava maravilha por estarmos acostumados com o borrachudo Ping-Pong.

A cada jogo ao vivo, mais eu gostava daquele esporte lento, em que os ídolos podiam ser gente “acima do peso” para padrões de esportistas, em que cada partida durava quase duas horas e meia e os espectadores passavam quase tanto tempo comendo quanto vendo as jogadas. Aprendi a ver a tabela dos jogos pelo jornal, com o inglês cada dia mais fácil, e virei torcedor fanático do Cubs, com boné e tudo.

Em um domingo de sol de final de primavera, em que fazia um calor de 25 graus, insuportável para que já se aclimatara, fui com meu pai e meu irmão pela primeira vez ao estádio para ver um jogo. Junto, veio um colega de meu pai da faculdade.

Para os conhecedores e amantes do esporte foi um momento histórico, um no hit game, mas para quem vê e não conhece, é algo parecido com um zero a zero “siderúrgico” no futebol, com três horas de duração. Quase mato meu pai e meu irmão de tédio, enquanto o amigo dele e eu batíamos palma de pé e alguns fanáticos invadiam o campo para pegar pedaços da grama.

Já comentei que adoro esportes, e até hoje se estou zapeando na tv e vejo um joguinho de beisebol, eu paro para dar uma olhada. Sinto saudade de acompanhar mais a temporada, mas é algo para fazer sozinho. Todo mundo me acha meio maluco por gostar desse jogo lento e sem empate.

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