Investimentos obedecem a equações financeiras, econômicas e mercadológicas. Para tudo ser levado a cabo, de forma adequada, é obrigatório que também se conte com um componente intangível chamado “confiança”. Diversos bancos, institutos de pesquisa e associações de classe divulgam índices de confiança da economia. Embora sejam subjetivos, ao longo de um período de tempo eles fornecem um importante balizamento para que se saiba como anda esse sentimento, capaz de impulsionar ou não um país ou determinados setores.
No Brasil, o atual governo conseguiu uma façanha quase impossível: nem mesmo as ações concretas merecem a confiança dos agentes econômicos. Assim, o que vemos a cada mês é uma redução dos investimentos. Quanto mais tempo sem investimentos, mais tempo será necessário para recuperação da confiança e para colocar planos e estratégias em andamento.
Quanto menor o volume de investimentos, menor o crescimento atual e potencial, tornando-se um circulo vicioso que somente será quebrado quando a iniciativa privada recobrar a confiança na economia.
Vemos o governo atribuir à situação mundial a culpa pelos baixos índices de crescimento do país. Ao mesmo tempo, ele reclama que o crédito está baixo, reduzindo o consumo e, em consequência, o crescimento. Vou me abster de falar mal desse modelo de crescimento pelo consumo. Em vez disso prefiro bater na tecla de que não há crédito por falta de confiança no modelo econômico e que não há tomador de empréstimo por falta de confiança na manutenção do emprego. Voltamos a circulo vicioso, só que dessa vez pelo ângulo do consumidor.
Como se consegue recuperar a confiança?
Eu diria que com ações mais claras, com menos interferência e com políticas duradouras. Olhando de uma forma simplista é muito fácil. Durante o governo Lula observamos a manutenção de políticas que deram certo em governos anteriores, em uma demonstração de que o melhor é o país crescer e não tomar para si todos os créditos de algum sucesso. No entanto, a partir de 2010 houve uma guinada para um novo modelo, abandonando o que caminhava de maneira tão azeitada. Enumerar os erros pouco adianta e entedia quem lê. Porém é preciso deixar claro que declarações de que os juros ficarão no atual patamar por quanto tempo for preciso, feitas pelo atual presidente do Banco Central, seguida de outra do presidente do BNDES, garantindo que a inflação cairá no médio prazo e os juros também, só confirmam que temos muitos caciques e poucos índios. Ou melhor, todo mundo acha que manda e ninguém sequer escuta.
A presidente Dilma chama a todos de pessimistas. Os números pioram a cada semana e todos se entreolham como se querendo entender como seria possível cultivar algum otimismo diante da atual realidade. Ao final do mês de agosto será divulgado o PIB do segundo trimestre, com previsões ruins. Na última terça-feira, um dos conselheiros econômicos da presidente, Luiz Gonzaga Belluzzo, arriscou que o país pode ter um trimestre com redução do PIB, fato inédito para o até tão otimista ex-presidente do Palmeiras. As projeções do mercado financeiro, compiladas pelo Banco Central, dão conta de uma revisão para baixo do primeiro trimestre e de um segundo trimestre negativo, com alguma recuperação na segunda metade do ano, fechando 2014 com pífios 0,86%. Outro conselheiro econômico do governo, Delfim Netto, voltou a confirmar seu receio da tal “tempestade perfeita” na economia nacional, visto que, apesar do crescimento americano patinar e adiar por alguns meses a elevação dos juros por lá, a deterioração das contas públicas e externas por aqui mantêm o sinal amarelo intermitentemente aceso.
Veja só, presidente Dilma, os pessimistas são muitos e não é por acaso. Seria interessante dar ouvidos a eles, pois no momento tanto o empresariado quanto os consumidores estão fazendo ouvidos de mercador aos seus apelos.