A tempestade perfeita

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Tempestade Perfeita IV

Na segunda-feira passada, o ex-ministro Delfim Netto deu entrevista ao jornal  Estado de São Paulo e  a outros veículos de comunicação. Com o bom humor costumeiro e tiradas inteligentes, Delfim, tido como interlocutor frequente do ministro Mantega e do ex-presidente Lula, traçou para a conjuntura econômica um quadro menos pessimista que a maioria dos analistas nacionais e internacionais, cujo pensamento compartilho.

Sua visão é de que tudo está no limite — inflação, câmbio, contas externas, e contas públicas –, mas que é possível obter o equilíbrio se o governo tiver pulso firme. No entanto, advertiu que dois fatores podem levar o país ao que chamou de “tempestade perfeita”. Essa expressão foi cunhada para descrever o furacão Bob, de 1991, que parecia ter saído de um laboratório por suas características grandiosas, perfeitas demais para serem geradas no mundo real. Bob mereceu livro e filme. Ela passou a ser aplicada a diversas situações. Mas é na economia que ela melhor se encaixa, utilizada quando algo de muito ruim paira no ar ou está prestes a acontecer.

Dois fatores podem desencadear a “tempestade perfeita” em 2014, ambos fora de controle do governo. O primeiro é a possível redução de estímulos da economia americana. O FED pode reduzir o QE3 (quantitive easing) o que provocaria redução da liquidez mundial, queda dos preços das commodities, elevação dos juros bancários e consequente elevação do risco dos empréstimos. A consequência para nós vem sob a forma de mais inflação por conta da alta do câmbio, redução de fluxo de recursos para títulos brasileiros, taxas mais altas pagas pelo governo e por empresas, piora das contas externas e públicas. Em ano eleitoral o governo tem pouca margem de manobra. O segundo fator acaba de ser mencionado: a atual presidente em campanha para reeleição e o projeto de poder do PT são calcados em forte presença do estado na economia. No entanto, as contas públicas estão em situação-limite. Em 2014, não haverá reforço do caixa de leilão como houve em 2013 com o campo de petróleo do pré-sal de Libra.

Tempestade Perfeita III

A presidente corre contra o tempo. Conseguiu fechar acordo com as lideranças da base aliada no Congresso para que não se vote nenhuma despesa sem garantias da respectiva receita. Nesse caso houve prevenção.

Em 2013, ela conseguiu mais uma proeza da “contabilidade criativa”. Poderá incluir nas receitas as desonerações feitas para incentivo do consumo, isto é, um valor que não existiu na realidade, é apenas contábil!

Em 2014, vai haver queda das desonerações, um reforço no caixa.

Outra mudança de regra que já vale para 2013 desobriga o governo federal a repor o valor que os governos estaduais e municipais tinham a obrigação de poupar. É, sem dúvida, uma tentativa de desarmar possíveis armadilhas. No entanto, o caminho está minado com futuros reajustes de tarifas de transporte público, de energia elétrica e de combustíveis. Não conseguirão escapar.

A luta é grande e dura. De um lado um governo sem o mínimo domínio dos pilares básicos da economia; do outro, fatores que estão fora de seu controle.

Dessa forma, é possível que 2014 seja um ano igual a 2013: fraco e no limite do ruim. Ou então, poderemos ter a “tempestade perfeita”, situação em que nem a vitória na Copa do Mundo fará com que as coisas passem despercebidas.

Coitado do próximo presidente!

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