Cheiro de xampu

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Cheiro de shampoo I

Por uma pequena fresta da cortina mal fechada entrou um pouco de claridade, o suficiente para acordá-lo. Eram sete da manhã e não havia necessidade de levantar cedo em um sábado, mas não tinha vontade de dormir mais. Sentia apenas um cansaço bom, satisfeito. Ela seguia dormindo profundamente, coberta pelo lençol até a orelha. Pensou em puxar a colcha, mas desistiu porque a movimentação poderia despertá-la. E ela estava imóvel com respiração tranquila.

Uma certa fome o perturbava, mas tomar café sozinho depois daquela noite seria uma falha imperdoável. Chegaram tão sôfregos no flat que ele nem tinha ideia do que havia no frigobar.

Olhou cuidadosamente para o lençol, para descobrir onde estava preso para não perturbá-la, levantar-se com calma e dirigir-se até o pequeno refrigerador para pesquisar o que poderia beber ou comer e depois tomar um banho regenerador. Um Toddynho gelado ou um Del Valle de pêssego? Decidiu pelo suco. Péssimo, doce e artificial demais.

Entrou no banheiro e gostou quando fechou a porta e encontrou dois roupões. Ótimo. Não precisaria sair para pegar a roupa. Toalha grande como gostava. Ele abriu a torneira de água quente, temperou com a fria e entrou sem pestanejar. As costas arderam. Ele, um pouco assustado, se encostou na parede, dentro do boxe. As cenas da noite anterior voltaram. Ele sorriu. Realmente não podia ter imaginado que ela o teria arranhado tanto naqueles momentos de empolgação maior. Esfriou a água um pouco mais e a ardência diminuiu. Sem tirar o sorriso do rosto, terminou o banho, vestiu o roupão, saiu e deitou-se lentamente na cama.

— Que horas são?

Ela perguntou com uma voz rouca e com a boca espremida no travesseiro.

— Oito e pouco. Dorme amor. É cedo. — ele respondeu cobrindo-a de novo até quase o queixo.

— Diminui o ar condicionado? Estou gelada.

Ele levantou, ela virou-se para o outro lado e voltou a dormir, mais leve, mais agitada, mas ainda cansada.

Fora a primeira noite deles juntos. Não estava programada, apesar da vontade ter aparecido no dia que começaram a namorar. Foi depois de quase vinte dias que eles decidiram. Está certo que ele tinha viajado por dez dias a trabalho logo depois de começarem o namoro, mas na volta, ele um tanto presunçoso, fizera uma investida mais forte e ela refugara. Na mesma hora, ele falou:

— Então não tento mais. Você é quem vai me pedir.

Ela riu:

— Eu sempre te achei emburradinho e metidinho, e agora também te acho convencido.

Riram.

O dia anterior tinha sido o aniversário dela. Ele preparou com cuidado os presentes que daria ao longo do dia. Logo de manhã mandou flores, cartão e o primeiro presente. Na hora do almoço, mandou para o trabalho dela o segundo presente e outro cartão.

Após o jantar, o último presente. Entre feliz e assustada, ela perguntou timidamente:

— Vai ser sempre assim?

— Enquanto você quiser, sim.

— Você me leva para passar a noite com você?

O pedido o pegou de surpresa.

Durante o caminho trocaram beijos demorados nos sinais fechados e ela se mostrou ousada nos carinhos. Ele nem sabia o que o esperava.

Optou por um flat que conhecia em vez de motel, era mais confortável e deveria ter um bom café da manhã.

Sentado na poltrona em frente a cama, com cuidado para não roçar as costas no encosto, olhou para os contornos do corpo dela sob o lençol. Nunca tinha namorado mulher tão bonita. E como o surpreendera à noite! E ele bem que achava que dominava o assunto. Vã ilusão. Sorrindo e fitando-a, fechou os olhos.

Não imaginou que tivesse cochilado. Acordou com cheiro de xampu e ela no seu colo, mordendo delicadamente sua orelha:

— Acho que te arranhei muito ontem à noite. Deixa eu cuidar disso…

 

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