— Would you dance with my wife? It’s a personal favor.
Quase caí da cadeira. Meu chefe nos Estados Unidos pedia que eu dançasse com sua mulher enquanto ele continuava sua importante conversa com outros CEOs de gestoras de recursos.
Estávamos em Nova York, num baile dentro do Metropolitan Museum, com convidados em black-tie e longos. Na época, eu trabalhava na cidade e acabei convidado. O Brasil estava na moda, com as privatizações e investidores externos que aportavam muito dinheiro por aqui. De lá, eu cuidava de investidores que aplicavam no mercado de ações brasileiro. Eu nunca havia frequentado um ambiente como aquele e meus olhos tentavam captar tudo o que acontecia. O pedido me pegou desprevenido.
A orquestra com aqueles metais lustrados começou a tocar “Sway”, um clássico, e o crooner tentava imitar o mais famoso intérprete da música, Dean Martin, um dos amigos de Frank Sinatra. É um mambo e se dança um tanto quanto colado, mas consegui manter a distância regulamentar e dançar com aquela senhora com quase sessenta anos e que exibia algumas plásticas. Na época, eu ainda não havia chegado aos quarenta. Depois de mais duas músicas, ela afastou-se ligeiramente, me agradeceu muito e fomos sentar. Recebi alguns elogios dos meus companheiros de mesa e fui me servir de champanhe, sempre observando os que tentavam aproximação para fazer negócios, os que estavam entediados com aquele teatro, e ainda os que tentavam se fazer conhecer porque aquela era uma ocasião única. Havia muitos milhões de dólares por metro quadrado.
Estava sozinho na cidade. A mulher e filhas ficaram por aqui. Circulei pelo salão para ver a decoração em branco e preto. Em seguida, fui me servir do jantar que estava tão maravilhoso quanto pareia. Carnes de caça, acompanhamentos delicados que não obscureciam o sabor dos pratos principais, frutos do mar em abundância e um sem número de sobremesas maravilhosas. Sentei-me para melhor apreciar a refeição e percebi então que minha performance na pista não havia passado desapercebida. Ao meu lado sentou-se uma moça bonita, americana típica, loura natural com olhos claros, um perfume delicioso, que começou uma conversa ingênua, mas que tinha começo, meio, e fim. Isto é, ela queria saber quem eu era e provavelmente o tamanho da minha conta bancária. Entretive-me com ela por uma meia hora e com a mesma delicadeza e educação com que chegou, ela se levantou. Percebi que à medida que a bebida, farta e boa, fazia seu efeito essas moças circulavam com mais desenvoltura pelo salão.
Para identificá-las com mais precisão, reparei que apresentavam os vestidos com mais decotes, menos joias, mais atitude e sapatos exibindo mais os pés. Sou indiferente ao detalhe dos pés, mas vi muitos americanos do alto de seus 1,90m olhando embevecidos para os delicados pés das moças. Elas atuavam com perfeição, cometendo pequenos deslizes para se aproximar. Beber “por engano” do copo de quem queriam puxar assunto era a técnica de uma delas. Aquela que havia jantado comigo, delicadamente, ao sentar e ao se levantar roçava o vestido e as pernas, nas pernas de suas “presas”, e dava um pequeno sorriso por cima do ombro. Eram profissionais e eu fiquei impressionado com o jogo de cena delas.
Divertia-me vendo tudo aquilo, até que recebi novo pedido do chefe, e voltei a pista com a minha partner que agora se mostrava irritada com a insistência do marido em falar de negócios. Mas a crise russa se avizinhava, como veríamos depois. A orquestra e o crooner atacavam de “You make me feel so Young”, um dos sucessos de Frank Sinatra.
Não que eu fosse Cinderela, mas comecei a querer ir embora perto da meia-noite. Afinal, costumava chegar cedo ao escritório, e mesmo sendo uma sexta-feira, havia muito trabalho. Lembrei-me também de uma máxima sobre as grandes festas: “Saia enquanto a música toca forte, a comida ainda está quente, as mulheres estão com a maquiagem em ordem e os homens ainda não se penduram no seu ombro.”
Uma festa para não esquecer, sob todos os aspectos.