A dez dias do final da Copa do Mundo está claro para mim que ficará um vazio enorme nos torcedores, especialmente nas cidades-sede, como o Rio de Janeiro. Encaixo-me perfeitamente nessa categoria de órfão do futebol e da mudança de astral que se operou em toda parte durante a competição.
Sentirei falta do policiamento mais presente, e dos estrangeiros de todas as nacionalidades zanzando pelas ruas com seus mapas e perguntando com um sorriso de quem está perdido onde fica o Pão de Açúcar. Os bons jogos vão ficar na memória, assim como as discussões e as risadas enquanto se acompanhava os jogos com amigos e pelas redes sociais. Novas amizades foram feitas, outras renasceram. Foi algo inesperado.
Sentirei falta dos jornais cheios de notícias sobre a Copa, com cadernos inteiros dedicados aos acontecimentos, cronistas do cotidiano falando sobre futebol e os especializados transmitindo a emoção de se ter uma Copa no quintal de nossa casa, algo que me deixa feliz de ter vivido. Para mim, a Copa é mais do que os jogos fantásticos que vimos. É toda essa atmosfera que nos cerca. Muito mais que o futebol, são as pessoas que sempre farão a diferença.
Poderíamos organizar um abaixo-assinado pedindo à FIFA uma nova Copa dentro de dois meses. Os estádios estão aí, já superfaturados e todos felizes; os aeroportos não estão prontos mesmo e todos estão adorando; as companhias aéreas voam no horário nessa época – algo inusitado; e os estrangeiros vão adorar a ideia de prolongar a estadia. Colocaremos os argentinos de quarentena, capinando as beiras das estradas com bolas de ferro; e reivindicaremos à FIFA a inclusão de mais doze países na competição para termos mais jogos. Enfim, tudo já está mesmo mais ou menos encaminhado.
Mas pensando bem com o fim da Copa acabam-se também as repetições cansativas de frases como “Não tá fácil pra ninguém”, “Não tem mais bobo no futebol”, “Não tem mais jogo fácil”, “Fulano é diferenciado e faz a diferença”. Tampouco serei obrigado a escutar as pérolas proferidas pelo lateral Roberto Carlos, travestido de comentarista. Nem terei que ouvir os comentaristas bissextos, aqueles que só aparecem para dar suas contribuições durante o Mundial.
Pensando bem, vou examinar melhor a questão do abaixo-assinado. Talvez seja preferível estabelecer alguns parâmetros, me aconselhar com amigos e depois tentar uma audiência com Joseph Blatter e Jerôme Valcke.
Por ora, chega de dar vazão ao lado emocional, chega de chororô. Temos uma tarefa à frente: torcer desesperadamente contra a Colômbia. Afinal, “não tá fácil prá ninguém”.
Festa sem igual, mas não precisava vender a casa para fazê-la.
Republicou isso em Linhas Traçadas…Imagens…e comentado:
E muitos daqueles que não queriam, hoje dizem hashtagqueromaiscopa!