Éramos um grupo de nove ou dez, todos na casa dos vinte e poucos anos, donos do mundo e querendo comemoração. A gente se reunia na casa de um amigo para ver os jogos daquela Copa do Mundo, em 1982. Vivia-se uma grande euforia pelo maravilhoso time que tínhamos, mesmo que o goleiro e o centroavante não fossem exatamente uma unanimidade. A preparação para os jogos era a hora de discutir o placar e quem marcaria os gols.
A cada jogo havia um novo show, com direito a todo o tipo de gol. O clima de otimismo nem de longe lembrava o ufanismo da Copa de 1970. Uma nova canção substituía a famosa “Noventa milhões em ação, prá frente Brasil”. E era algo mais leve, um samba e não uma marcha: “Voa, canarinho, voa.”
E a Itália mais uma vez cruzou nossos caminhos. Nunca me senti dividido ao torcer pelo Brasil contra o país dos meus avôs, mas lá no fundo sempre pensei que preferia outro adversário.
E veio o jogo das quartas de final. Foram noventa minutos de um espetáculo maravilhoso, com grandes craques dos dois lados e maneiras diferentes de jogar. Para quem gostava de futebol, foi um jogo para se guardar na memória. Pena que o resultado não tenha nos favorecido. Falando assim, parece até algo pequeno, que passou, mas garanto que foi uma das maiores decepções que tivemos em matéria de futebol.
A ressaca moral durou semanas e atingiu até os locutores e comentaristas da TV Globo, demitidos. O país viu o futebol de resultados aparecer e conquistar o mundo. Nos rendemos a ele, aprendemos a jogar mais feio, mas em busca da vitória e não apenas pela beleza de jogar bem.
É assim que vejo a semifinal de amanhã. Jogamos cinco partidas e não convencemos em nenhuma, mas ganhamos e chegamos até aqui. Nós, torcedores, palpiteiros, comentaristas de botequim, mal humorados de plantão e os eternos otimistas, nos juntamos de repente. Não, não é aquela “corrente pra frente”, mas em casa, diante das adversidades que surgiram e tocados pela beleza e empolgação geral da festa, resolvemos torcer.
O time não é uma unanimidade, o esquema tático menos ainda, mas é o que temos e é o que vamos ver e torcer muito.
Como se costuma dizer, vai ser um jogo que servirá para separar “os homens das crianças”. É hora de jogar para ganhar do jeito que for, bonito, ou feio, com esse ou aquele jogador, com qualquer esquema tático. Basta fazermos mais gols que a Alemanha. Simples, não?