指圧

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Shiatsu VII

 

Durante os anos de 1990, costumava correr cerca de 55 a 60 km por semana, uma bela distância para um amador. Porém, treinava absolutamente por minha conta, com um risco alto em termos de lesão, para dizer o mínimo. (Não conhecia ainda a assessoria do Mestre Christiano Marques). Esse ritmo de treinos, somado a provas de rua a cada vinte dias, além de estar associado ao estresse do trabalho no mercado financeiro, começou a me causar muitas dores.

Descobri o shiatsu por indicação de amigos. Funciona, eu atesto. Durante quase quatro anos frequentei a “clínica” de Mestre Yamashita no Brooklyn, em São Paulo. Mudanças no trabalho me obrigaram a interromper. Quando quis retomar o tratamento, ele havia falecido. Eu precisava encontrar outro lugar para as massagens.

Mais uma vez amigos me deram recomendações, encaminhando-me para clínica de Luiza Sato, em Moema. Quando cheguei para a primeira sessão, a moça gentil da recepção perguntou se eu queria uma massagem forte ou normal. Pensei inadvertidamente: “Macho que é macho faz a forte” e indiquei minha opção.

– Então a Asuka vai atender o senhor.

Dirigi-me ao boxe e troquei de roupa. Tirei o paletó e gravata, substituídos por uma bermuda e camiseta embaladas em saco plástico da lavanderia, oferecidas pela casa. Poucos minutos depois entrou Asuka, uma moça oriental de pouco mais de 1,50m, muito simpática, sorridente e educada. Cumprimentou-me e perguntou se o ambiente era de meu agrado. Como sou chato demais, pedi para que diminuísse a música ou para que alterasse a trilha sonora. Nunca fui lá muito fã daquelas pretensas músicas para relaxamento. Ela desligou o som com um sorriso.

Começou a massagem e fui me desligando, relaxando com a pressão inicial das mãos nos meus pés. Aos poucos, porém, a sensação de relaxamento deu lugar a alguma dor, e depois a uma dor mais forte e aguda. Lembrei que havia pedido a massagem forte e que não acreditara que aquela criaturinha de aparência tão frágil fosse capaz de infligir tamanho sofrimento. Completamente sem graça soltei alguns gemidos. Virei levemente a cabeça para ver o que ela estava fazendo com a minha omoplata. Encontrei-a usando a ponta do cotovelo para fazer movimentos circulares. Àquela altura, eu já estava quase pedindo a volta da música chata para abafar aquilo que já era praticamente gritos de dor, pelos quais Asuka não demonstrava a mínima consideração.

Comecei a suar e ela achou aquilo interessante, acredito, pois passou a massacrar o meu pescoço com ainda mais vontade. Perguntou-me se eu tinha insônia. Respondi que sim, rezando para ter acertado a resposta e ganhar em troca a diminuição da tortura a que ela me submetia. Mas a minha resposta foi errada. Ela disse que o ponto para melhora do mal moderno era ali mesmo, próximo à nuca. A dor já era lancinante, a ponto de me fazer quase rir de nervoso e lembrar que eu havia pedido aquilo.

Ela voltou para as pernas, para meu breve alívio, pois a dor só mudou de local. Com outra pequena virada de cabeça, vi que o joelho dela esmagava a minha panturrilha.

Quando ela me pediu que me virasse de barriga para cima, eu estava completamente encharcado de suor. Em desespero, implorei-lhe que reduzisse a intensidade da massagem. Muito simpática mais uma vez, ela retrucou:

– Mas só faltam quinze minutos!

Mais uma vez, qual macho-alfa, concordei e sofri em seguida uma verdadeira sessão de tortura de câmara dos horrores.

Ao final, quando eu já não tinha força alguma para falar, ela reduziu a luz e me disse para descansar um pouco. Foi um sono pesado de quinze minutos. Ao acordar, ela me mostrou um chuveiro. Troquei de roupa e fui para casa quase como um sonâmbulo.

Durante um ano, relaxei do estresse e das corridas nas mãos de Asuka.

 

Shiatsu é o termo utilizado para denominar uma espécie de massagem milenar que utiliza a pressão (atsu) dos dedos (shi) para liberação da musculatura do corpo, atuando em seus pontos de energia vitais.

 

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