A economia de mercado sempre está sujeita à elevada dose do imponderável, o que a torna um desafio permanente. Trabalhar de maneira conservadora inibe as perdas pelo aparecimento de tais fatos, que às vezes contrariam as projeções ou se precipitam de que haja tempo para atitudes preventivas. O mundo assiste neste momento a acontecimentos que irão promover fortes mudanças em 2015, afetando tanto o desempenho das grandes economias quanto das emergentes também.
O preço do petróleo desaba de maneira inesperada. As teorias para a queda são várias. Fiquemos com a velha conhecida, de que a oferta está mais alta que a demanda atual e de que no futuro próximo não há expectativa de diminuição de produção enquanto a China deve ter novo recuo no seu crescimento, a Europa continua a decepcionar — promete, não entrega e faz papelão — e os Estados Unidos terão crescimento maior que o esperado. Mas sua produção de petróleo aumentou a uma base de 15%aa nos últimos três anos. Então a oferta é alta e em ascensão e a demanda totalmente contrária.
Mas o que pode acontecer com o Brasil neste cenário?
Preços de commodities em baixa é sempre ruim para nós. Nos últimos quinze anos, não modernizamos a indústria, nos aproximamos comercialmente de parceiros ruins e mal administrados, e criamos uma dependência muito grande do crescimento chinês. Assim, nossas contas externas tendem a ficar no atual patamar perigoso de déficit entre 3,8% e 4% do PIB.
A queda específica no preço do barril de petróleo trará um alívio ao caixa da Petrobras, isto é, a gasolina e o óleo diesel estão agora mais caros aqui do que no exterior. Para recuperar as perdas acumuladas nos últimos quatro anos será necessário que o preço ao redor de 69 dólares se mantenha por dois anos e que o câmbio fique na faixa de R$ 2,60. Não acredito que isso ocorra, mas é um ponto positivo. No curto e médio prazo, porém, o estrago da combinação do escândalo de corrupção na estatal com a baixa do preço do barril de petróleo pode ser sim um problema gravíssimo. A Petrobras não conseguiria crédito para novas captações e as renovações estariam também difíceis e caras. As empreiteiras que prestam serviço a ela também se encontram na mesma situação e a estatal tem um programa de investimentos que afeta o PIB. Logo o nó que o governo tem pela frente será difícil de desatar.
E a possibilidade de energia barata “turbinar” a economia americana e os juros por lá subiram antes do esperado? Sim, esta possibilidade é real, e pode ser combinada até com uma queda menos acentuada da economia europeia. Isso traz um risco maior para nós que somos consumidores de poupança externa. Mas o mundo parece que se preocupa com colapsos de economias com a russa, que arrastaria grande número de bancos com ela, e ainda traria inconvenientes geopolíticos.
O ano que entra vem com essa novidade sobre o preço da energia que lança muita dúvida no desempenho da economia mundial e nos desdobramentos econômicos-políticos-policiais por aqui.
É um fato novo e inesperado. A economia de mercado não tem solução para tudo, mas encontra caminhos para a saída. É o que acredito. Mesmo que as soluções sejam longas e dolorosas, os problemas tendem a não se repetir. Por aqui, se insistirem em soluções de intervenção, aí sim, nos veremos presos ao passado e sem solução de médio e de longo prazo.
Resta esperar como a nova equipe econômica decidirá sobre essa realidade mundial, acrescida dos imensos problemas herdados de irresponsabilidade e incompetência do mesmo governo, mas da equipe anterior.
Mudaram os jogadores mas o técnico ainda é o mesmo. Será que a lógica futebolística será contrariada?