Todos os dias a propaganda nos bombardeia com imagem daquilo que seria considerado o corpo “ideal”, com medidas perfeitas, um passaporte obrigatório para a felicidade instantânea, e com meios que supostamente solucionariam essa busca frenética. Muitos se rebelam contra tais padrões. No lado masculino, costuma-se dizer que “um homem sem barriga é um homem sem história”. As mulheres, por sua vez, também se defendem e pedem o direito de envelhecer como são e não como os outros querem, desejam ou idealizam.
Em uma cidade como o Rio de Janeiro, onde a exposição do corpo é cultural, natural e convidativa, reparar na aparência das pessoas chega a ser trágico, se não fosse cômico. Tome-se uma caminhada de pouco mais de uma hora por alguma orla e fica evidente o conflito entre a ditadura das medidas versus a liberdade de escolha. É claro que não devemos abstrair dos aspectos de saúde, mas introduzir também o item “saúde mental”, isto é, se sentir bem com a morada dos nossos pensamentos.
Os homens têm menos vergonha, pois a eles é menos cobrada a postura do corpo perfeitamente jovem. Exibem seus quilos a mais, as dobras nem sempre bem posicionadas e uma preocupação menor com a vaidade, sem abrir mão de tomar sol e de manter a saúde física em dia. Assim os “tanquinhos” depilados que cruzam correndo ou pedalando incomodam menos aos que não conseguem o chamado “corpo da moda”. A verdade é que no fundo sempre rolam comentários do tipo: “Eu trabalho, não passo o dia na academia”. E assim segue a vida, sem tanta cobrança.
Mas o lado perverso é o feminino. A luta surda entre as iguais que reparam em tudo quando se cruzam caminhando ou correndo pode estragar o dia ou até mesmo a saúde. O esforço para driblar os efeitos da passagem do tempo é inútil. Ele chega para todas. Se conta alguma coisa minha opinião de homem de meia-idade, posso dizer que quem sabe cuidar da cabeça e do seu bem-estar não precisa continuar usando o manequim de quando tinha vinte anos, muito menos se impor sacrifícios que impedem de desfrutar bons momentos da vida.
Aquelas que buscam as medidas perfeitas da moda muitas vezes não enxergam a vida com a calma de quem aproveita o que nos foi dado. Não há aqui apologia ao desleixo e sim ao bem-estar. Se este vier acompanhado de uma melhora do aspecto físico pessoal, tanto melhor. O importante é ter autoestima e não se impor fatores que não pertencem a cada um.
Um novo verão se aproxima. Todos os corpos estarão mais expostos, todos transmitem uma imagem, um recado. O que eu quero transmitir é apenas uma tranquilidade comigo mesmo, respeito ao que me foi dado com uma saúde boa e autoestima na medida certa. O recado que admiro nos outros é o assumir de seu corpo, a vontade de desfrutar do calor e do sol da cidade, dos prazeres da vida a qualquer tempo e paz de espírito para viver uma vida cada vez mais competitiva, difícil e pouco amigável.
Já chega a competição desenfreada pela sobrevivência digna na grande cidade. Para que também colocar dentro desse caldeirão a competição inútil contra o tempo.
Muito bom, querido Mauro. Muito bom…
Muito obrigado!