Bem-vindos a Babel!

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patrulha II

Volta e meia pipocam reclamações nas redes sociais contra o uso de expressões em inglês, substituindo os termos correspondentes em português. Acho tudo isso uma chatice. O chamado anglicismo não é uma exclusividade brasileira e não vejo queixas contra o galicismo presente em palavras como toalete, menu, camionete, abajur e tantas outras. Então qual seria o problema de empregar sale, browser, mouse, tablete. Toda essa discussão me soa tolice, me parece um imenso complexo de país colonizado.

Sim, o português é dotado de um vocabulário rico. É uma língua bonita, que acho fácil, pois tive excelentes professores. Porém isso não me impede de achar que certas palavras foram adotadas de uma forma quase universal. Por vezes, é uma estratégia de marketing usar palavras mais curtas como sale em vez de liquidação. Pode ser discutível. Mas como seria possível substituir “marketing”?

Enfim o que percebo é uma enorme vontade de implicar com qualquer coisa que venha de fora, esquecendo que esse movimento é natural e ocorre à medida que determinadas regiões dominam e exercem uma influência cultural maior do que outras, ou ainda porque o poder econômico durante um período é maior num determinada região e se espalha para o resto do mundo.

Tenho certeza que na Coreia do Norte há palavras para tudo, assim como em outros regimes fechados ou não democráticos. Nesses locais não teve e nem terá nenhuma Black Friday…

Essa cisma ocorre também com o Halloween comemorado ao final de outubro, que provoca reações daqueles que preferiam um evento protagonizado pela Cuca, o Saci, a Mula-sem-Cabeça, enfim figuras do nosso folclore, outra enorme bobagem. A patrulha cultural é tão tola que esquece que o carnaval é comemorado em Veneza há séculos e o nosso, importado, tem pouco mais de 100 anos. Hora de parar com isso, não é?

Quanto à decoração de Natal com ursos, figuras de países frios, contrastando com o verão escaldante do país? Eu pouco me importo. Que decorem como quiserem. Trata-se de estratégia de venda (ok, não usei marketing. Será que posso mesmo usar “ok”?), não me ofendo. Aliás, quando é bonita admiro; quando é feia, falo mesmo. Afinal tem um shopping na zona sul do Rio de Janeiro com uma árvore de Natal com pássaros e uma coruja horrível no topo… Para mim o que importa é ter algum senso estético. Que seja agradável a meus cinco sentidos, de preferência.

A criação, o uso ou a adoção de termos, figuras, datas ou qualquer coisa de outras regiões demonstram cada vez mais que a aldeia é só uma, e se um dia foi territorialmente unida, hoje é unida por várias vias e para nos comunicar é preciso achar meios que todos usem e entendam. Então menos patrulha, mais flexibilidade de pensamento e de atitudes.

O verão vem aí e o Rio vira uma Babel. De alguma forma inexplicável, todo mundo acaba se entendendo e é isso que queremos cada vez mais!

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