Na minha adolescência, só os desenhos animados estavam liberados para todas as idades. O resto da programação do cinema tinha censura, ou melhor, eram proibidos para determinadas faixas etárias. Eu não entendia os critérios usados para estabelecê-las. Aliás, ninguém entendia. Mas havia um jeito de driblar a proibição para menores de dezoito anos, pelo menos para os moradores da Urca. Todas as sextas-feiras, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), por um preço simbólico, era exibido um filme sem censura. Por volta de 1975, dois anos depois da estreia, a atração era Live and let die, o primeiro filme de Roger Moore como James Bond, com música do meu ídolo Paul McCartney.
Foi também o primeiro filme de James Bond que vi no cinema. Até hoje não consigo entender a censura de dezoito anos. Não havia cenas de nudez nem eróticas. Antes da exibição havia alguma tensão de briga no ar, porque nós, adolescentes da Urca, tínhamos que dividir espaço com outras turmas, mas era tudo muito mais bravata do que qualquer outra coisa, além de ciúme, é claro, pois a paquera rolava solta.
Desde então nunca mais perdi nenhum filme do agente secreto. Em DVD, vi os antigos com o grande Sean Connery, ator que teve sua carreira impulsionada pelo personagem ícone dos filmes de espionagem. Ganhei de presente das minhas filhas uma caixa com todos os filmes do agente inglês, até o último de Pierce Brosman. Depois, passei a comprar os do Daniel Craig.
Sou fã de alguns personagens do cinema como Indiana Jones e de heróis dos quadrinhos que foram adaptados para o cinema como o Batman (nesse caso, só os com Michael Keaton e Christian Bale), e ainda da saga Star Wars. Mas o personagem que guardo frases, é Bond, James Bond. Confesso que tomei o primeiro dry martini ali perto dos 20 anos, é claro “shaken, not stirred”, influenciado pelo agente com permissão para matar.
E todas essas lembranças me vieram quando soube que em 2016 será lançado o vigésimo-quarto filme de James Bond. Pretendo comparecer na estreia, com pipoca e refrigerante, para ver mais uma aventura onde ele aparecerá ao lado de lindas mulheres, com relógios e carros fantásticos, além de apanhar sem jamais ser nocauteado e, no final, mais uma vez salvar o mundo. É um misto de filme debochado e de aventura em que o mocinho ainda é indestrutível. Como adulto, admiro a destreza do herói em qualquer circunstância e sinto o prazer de encontrar um humor fino misturado àquelas mentiras de filmes de aventura que tanto nos divertem. Ao mesmo tempo, reencontro aquele adolescente que se irritava com as limitações impostas pela censura e que passava um tempão sentado no paredão da Urca vendo a maré bater nas pedras, entretidos por conversas que varavam a madrugada. Do que falávamos mesmo? Provavelmente eram apenas bobagens, mas hoje, aos meus ouvidos, elas soam como verdadeiras pérolas saídas de filmes de heróis imortais.