Ao final de 2013, analistas avaliaram que se aproximava do Brasil a chamada “tempestade perfeita e o panorama para 2015 cada vez mais se aproxima desse prognóstico. O ano que está acabando demonstrou que estavam certos os temores sobre a nossa economia. Ela fecha com problemas muito graves. O chamado “déficit gêmeos”, quando as contas públicas e as externas fecham no vermelho ao mesmo tempo, demonstra o quanto estamos dependentes de poupança externa em um momento crítico de possível elevação dos juros americanos e uma luta dos países para atrair poupança, pois a economia não tem gerado tantos ganhos novos.
Esse problema, que faz com que as agências de classificação de risco aumentem o grau da lupa que usam para analisar as contas, associado aos demais fatores decorrentes e que por aqui são recorrentes, elevará bastante a preocupação com cada medida da nova equipe econômica. A inflação precisa indicar que caminhará, mesmo que lentamente, de volta a no mínimo a faixa dos 5,5% a 6% ao ano; o câmbio precisará ser adequado aos parâmetros de redução do déficit das contas externas e volta ao superávit comercial, e isso trará outros efeitos para-colaterais como um pouco de inflação e redução de alguns investimentos, por fim, é necessário desarmar as bombas das tarifas públicas (transportes públicos e energia elétrica). Tudo isso é sabido, mas precisa sempre enfatizar, pois se entrelaçam e potencializam medidas.
E o que há de novo lá fora?
A grande novidade é péssima para nós: o mergulho observado nas últimas semanas na cotação das commodities energéticas e metálicas. A queda nas cotações do barril de petróleo, ao redor de US$72.00, tem implicações graves para nós. A economia americana ganha novo fôlego, pois agora há duas opções de energia barata por lá, e o crescimento pode se fortalecer e antecipar a alta dos juros, esperada antes para meados de junho, talvez agora para meados de março. Ao mesmo tempo, sofrem os investimentos da Petrobras, pois o interesse por projetos como o pré-sal é menor, e consequentemente eleva o custo em um momento que estes são fundamentais para o desempenho econômico do país dado o seu vulto. A queda do preço do minério de ferro atinge diretamente o produto mais exportado pelo país, responsável por fatia importante do saldo da balança comercial. Mais uma vez, as agências de classificação de risco se preocuparão com a qualidade dos dólares que entrarão no país.
A nova equipe econômica sabe que os sinais serão mais importantes do que os números obtidos no primeiro semestre do próximo ano, e por isso sacrificará o crescimento em 2015, mas também terá que torcer, porque se a economia americana aquecer antes do tempo, e a poupança mundial for para lá atraída, nossa situação ficará comprometida, e aí só sinais não serão o suficiente, números demonstrando acerto na economia pública e melhora do saldo comercial serão requisitados e não acredito que tenhamos algo para entregar com o atual panorama.
Fundamental lembrar que a vitória apertada da presidente Dilma Rousseff colocou o PT de novo perto da administração da economia. A cartilha ortodoxa está longe dos desejos do presidente do partido, Rui Falcão, e da escola do ministro da Casa Civil, e muito palpiteiro, Aloísio Mercadante.
Sendo assim temos que acender uma vela para boas e eficientes medidas econômicas e outra para uma recuperação do preço das commodities. Confesso que estou cético que as duas façam efeito em conjunto.