À moda antiga

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Cartas IV

Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2014

Oi,

Como você está?

Fazem algumas semanas que tenho vontade de lhe dizer certas coisas, mas entre a correria para me manter com a cabeça fora d’água, o medo de ser rejeitado e a falta de calma para sentar e escrever, o tempo foi passando.

Outono e inverno não combinam muito com você. Mesmo assim, alguns dias lindos, de temperatura amena, me fizeram lembrar de nossos passeios a pé. Era bom o contato das mãos dadas, as trocas de olhares, os sorrisos cúmplices e o silêncio de quem estava feliz e em paz.

Sei que carta é algo ultrapassado até para aqueles da minha geração, mas como não sabia como seria recebida outra espécie de abordagem, resolvi recorrer a esse método, o mais antigo e o mais fácil de ser descartado.

Essa vontade de falar com você às vezes é quase insuportável, às vezes é aterrorizante. Como pode um relacionamento nem tão longo assim ter tal intensidade e deixar marcas tão estupidamente profundas?

Bom, você me dizia para ser menos melodramático, então me desculpe pelo parágrafo anterior, mas ele é absolutamente necessário.

O que anda fazendo? Aquele seu projeto de continuar estudando andou? Não abandone a ideia de se aperfeiçoar. Não se afaste da “academia”. Ela refresca e atualiza. Não que eu goste, mas sei que é importante. De novo, minha geração sempre quis trabalhar mais e cedo.

E as viagens, como vão? Tem se divertido? Diz pra onde tem ido, o que tem feito. Gosto de saber quando está feliz.  Me faz bem. E se isso for egoísmo, tudo bem.  Muitas vezes sou mesmo egoísta.

Eu teria algumas coisas para contar, mas acho que o melhor é sempre tentar saber mais sobre você. Existem pouquíssimas pessoas com quem me preocupo  Enfim, sempre desejei a sua felicidade.

Depois desse inverno gelado, virá a primavera, a estação em que te conheci e em que começamos a namorar. Sempre dá saudade. Ainda não consegui entender muito bem o que nos levou àquela briga. Nenhum dos dois tinha tantos argumentos para ser o único dono da razão ou para ter direito a acusar o outro. Talvez esteja aí o motivo de tudo. Parafraseando Frank Sinatra (sim, também de outra geração), foi um spring wind que veio suave e foi embora mais forte prenunciando uma chuva de verão.

Não queria terminar triste, mas por mais alegria que me traga sua felicidade, fica aquela ponta de dúvida sobre como poderia ter sido, o que teria acontecido, como estaríamos…

O mais importante é que a saudade que sinto é morna, gostosa, bonita e azul. Você sabe que não gosto de rosa e que meu maior desejo é vê-la feliz.

Mesmo sem precisar, vou repetir que você foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Durante um tempo, cheguei a ficar menos duro com a vida.

 

Carinhosamente,

 

Mauro

 

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