O avesso do Pão de Açúcar

Praia de Fora

Todas as cidades têm seus segredos, por mais que suas belezas naturais e construções históricas enfeitem cartões postais. Nem mesmo seus habitantes estarão imunes a pequenas surpresas cotidianas, se mantiverem os olhos abertos. O Rio de Janeiro completou 450 anos e aposto, sem medo de errar, que menos de 20% de seus moradores sabe exatamente onde tudo começou. Posso me gabar porque nasci praticamente ao lado de um dos lugares mais bonitos da cidade e talvez um dos menos conhecidos.

Quando os portugueses chegaram por essas bandas, fizeram uma pequena fortificação para guardar a entrada da baía de Guanabara. O acesso é difícil, hoje se encontra escondido num bairro pequeno, a Urca. Na área que hoje é ocupada pelo Forte de São João, encontram-se algumas das instalações esportivas mais importantes do país – ali foi treinada a Seleção Brasileira que ganhou a Copa de 1970, no México, que se distinguiu por seu preparo físico. O que poucos sabem é que no interior do forte estão duas pequenas praias, praticamente desconhecidas até pelos cariocas da gema, ambas aos pés do Pão de Açúcar, mostrando um lindo contraste entre o mar, o céu e o morro imponente.

A praia maior, chamada de “Praia de Fora”, por estar fora da baía de Guanabara, é uma faixa de areia com menos de um quilômetro de extensão. O mar é agitado por ondas que pareciam enormes para mim na infância. Com olhos de adulto, reconheço que não passam de mero divertimento. A “Praia de Dentro”, a menor, não tem 200 metros. Sem ondas, sempre foi uma espécie de quintal das crianças do bairro. De lá é possível ver quase toda a baía de Guanabara, o movimento dos aviões no aeroporto Santos Dumont e até a ponte Rio-Niterói.

Nasci, passei a infância, a adolescência e a juventude ali. Na meia-idade, a paisagem continua me fazer perder o fôlego. Muitos ouvem falar, poucos realmente conhecem. Para mim, guarda uma beleza inigualável misturada com lembranças de amigos, paqueras, partidas de futebol. Memórias de todos os tempos, que nunca deixam de me emocionar.

Vista do mítico morro Cara de Cão