O irresistível charme da maturidade

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Muito se fala sobre as possibilidades de se viver mais e melhor promovidas pelos avanços da ciência e da medicina. Não existe mais nenhuma dúvida sobre o fato de que os jovens saem cada vez mais tarde de casa e se casam mais velhos do que há trinta anos. Com isso, passou a ser dito que a faixa dos cinquenta anos representa, atualmente, o mesmo que os quarenta anos do passado. Ou melhor, é possível dizer que a vida começa aos 50!

As moças sempre tiveram um quê de cisma com a idade. Durante um período querem se mostrar mais velhas e em outro momento desejam controlar o tempo. Como um observador do comportamento feminino, digo sem medo de errar e também sem falar nenhuma novidade, as garotas sempre amadurecem antes do que os rapazes. Depois, ganham contornos mais definidos do que querem, mas se tornam, na maioria das vezes bem mais interessantes.

Do alto (não pela altura) dos meus mais de cinquenta anos, observo que as moças da minha geração andam diferentes. Ou será que agora eu as enxergo com mais atenção? Encontro mais sutilezas, menos peso nos ombros, mais cuidados, e menos afirmações de que os interesses diminuíram. Ao mesmo tempo em que sabem se defender muito bem, já estão treinadas para o ataque também, mas sin perder la ternura, jamás!

Dissolveram-se os sentimentos de culpa e as dúvidas tão comuns, como batalhar uma carreira ou se dedicar à criação dos filhos. Diminuiu a ansiedade de dar conta de relacionamentos e família. A cabeça está mais bem resolvida em relação aos assuntos mais importantes e o corpo demonstra isso.

A ditadura da moda anda um pouco mais flexível e, aparentemente, os (as) estilistas entenderam que existe uma outra consumidora que também quer se mostrar, ou ainda melhor, fingir que se mostra, como bem ilustra a jornalista Lu Catoira. (ver http://www.annaramalho.com.br/news/amigos-da-anna/lu-catoira/14345).

Não me refiro à sarada que corre na praia e bate ponto diário na academia, piloto de testes de todos os produtos cosméticos, naturais ou não. Falo daquela que viveu a vida normalmente, com alegrias, tristezas, realizações e frustrações, que já não se incomoda em se fazer tantas cobranças. Mesmo quando elas ainda se impõem, como o eterno malabarismo entre trabalho e filhos, essa mulher sabe se virar com dignidade e sabedoria, mesmo que às vezes tenha que recorrer a algumas pitadas de malícia.

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Ocuparam todos os lugares. Não se restringem a ficar em casa se lamentando da chamada “síndrome do ninho vazio”. Fazem parte da vida corporativa, conduzem negócios próprios, ocupam gerências de bancos e — por que não? — algumas até encontraram tempo para flanar nas praias e shoppings. Nas academias, não são mais aquelas que chegam cedo demais e vão embora antes do movimento. Frequentam o horário nobre. Não se furtam mais de fazer brincadeiras e abrir sorrisos marotos. Não acreditam que a vida entrou no segundo tempo do jogo. Aproveitam intensamente cada momento do presente.

Não canso de admirar amiga de longa data que continua correndo os mesmos oito quilômetros diários. Reparo agora, porém, que agora ela cumpre o percurso sem a preocupação de olhar para os lados. Segue concentrada, como quem sabe perfeitamente bem aonde quer chegar. Ocorre-me então que as mais jovens deveriam se precaver. Uma “bola dividida” com essa mulher mais experiente pode provocar machucados invisíveis, mas bem doloridos.

O Rio de Janeiro poderia ser vilão, afinal com o calor que faz por aqui e com a desinibição das mais novinhas, as moças de meia idade poderiam ficar retraídas. Não é o caso. Envergam com desembaraço e elegância shorts, leggings mais justos e bermudas nas caminhadas pela orla ou nos parques.

Outro dia vi uma reportagem na televisão sobre as mulheres que estão prestes a completar, ou recém-completaram, quarenta anos. Fiquei admirado com o que detectei como falta de certa serenidade, pois a preocupação com a estética pareceu-me exagerada. Entendo que exista o desejo de corresponder ao padrão da época, mas como disse anteriormente, controlar o tempo é uma tarefa inglória.

Aqui abro rápido parêntese. Não há como não admirar a beleza clássica de uma Luiza Brunet ou a mais intimidadora de uma Demi Moore, é verdade. Mas é encantador me deparar diariamente com mulheres como tantas outras, encarando o cotidiano com um charme discreto e atemporal. É algo que me chama muito a atenção.

Assim como dizem sobre os moços da minha idade que “homem sem barriga é um homem sem história”, afirmo categoricamente que algumas ruguinhas, manias, preocupações e quilinhos não colocam minhas contemporâneas em desvantagem. Pelo contrário, elas sabem como ninguém tirar partido de seus novos atributos para conquistar, apaziguar e dar alegrias.

 

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29 comentários

  • Elisa disse:

    Completando 65 agora é me sentindo com 40. Fazer o que? Rsrs.

  • Anônimo disse:

    Completando 65 agora é me sentindo com 40. Fazer o que? Kkkkk

  • Bia Perez disse:

    Adorei seu texto… abs.

  • Rosiley Alfredo disse:

    Texto muito reflexivo e que me fez entender muitas situações pelas quais tenho passado. Do alto dos meus 47 anos, rs, percebo que o que mudou na verdade, foi a decisão de “mandar as favas” o que não me faz feliz e começar a viver com mais qualidade. Isso fez um diferencial enorme na minha autoestima. Bom demais! Hoje vivo por mim, só tenho essa vida e preciso fazer o melhor …

  • lesley disse:

    Uso a metáfora da manga. Ela, quando madura se pinta. Fica colorida e doce. A maturidade é assim. Nossos medos se perderam no tempo. E, nos enchemos de luz …de cores. ..a vida vira uma festa.

  • Cissa disse:

    Estou com 45 agora, e logo depois de completar 40, notei que passei a atrair mais a atenção masculina, mesmo sem fazer nenhum esforço para isso. E, curiosamente, ainda atraio a atenção de rapazes mais novos, o que, por si só, já é um grande elogio. E, às vezes, me pego pensando se já cheguei mesmo nos 45…rs

  • silvana disse:

    Adorei o texto tenho 35 mas me vejo exatamente neste contexto lindo e sutil da mulher que é feliz como é, e espero chegar aos 50/ 60 /70 ASSIM.

  • Cláudia Glauciene Teixeira disse:

    Encantada,é a palavra que define o que senti ao ler esse texto. Sem dúvida, ninguém pode controlar o tempo, mas há tanto o que apreciar durante seu percurso, sem necessidade de se prender a determinados padrões. A maturidade tem me feito muito bem!

  • Edneia disse:

    Amei ler esse texto,me identifiquei com algumas colocações,amo viver me sinto com 39, mas na verde tenho 51.

    • maurogiorgi01 disse:

      Primeiramente obrigado por ler o texto. Eu também já ultrapassei os 50 e não me sinto com eles. É verdade quando dizem que os 50 são os novos quarenta, a vida começa agora!

  • Ana Paula disse:

    Ah! Se todos fossem iguais á você! kkkkkkkk
    Sério, texto muito lindo em sua essência. Encontrei-o por acaso e adorei.
    Beijos.

  • Sandra disse:

    O autor foi psicólogo e escritor, pois descobriu com naturalidade o que se passa na cabeça das mulheres maduras ….autenticidade, liberdade para usarem o que desejam a, pouca importância que dão à opinião alheia , e tantos outros que a maturidade nos trás! Lembro-me quando tinha 20 aninhos, não tinha nem coragem de dançar. Conversava pouco, tamanha a timidez. Batom vermelho, não podia usar, pois diziam que eram de mulheres dos prostíbulos….Pois é, sobreviver a tantas amarras e estar aqui, leve e solta é uma dádiva. Sem amarras, sem preconceitos idiotas e antiquados ! Parabéns Mauro, o seu texto é maravilhoso, uma radiografia de vida!

    • maurogiorgi01 disse:

      Muito obrigado pelos elogios, as vezes fico realmente achando que posso escrever, um economista de meia idade que o que mais faz é observar a vida. Os textos saem dessas observações e fico feliz quando encontro alguém que gosta do que escrevo. Espero que continue lendo e que que continue gostando do resultado.

  • Mariane Almeida disse:

    Vc de fato tem bons textos e pelo que pude ver até agora, não há pretensão de rebuscamento, a linguagem flui equilibradamente, é possível que agrade a Gregos e Troianos.

  • Raquel Ramos disse:

    MARAVILHOSO, merece ser impresso e colocado na porta da geladeira para ser lido todos os dias.

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