Em São Paulo, pouco se anda de ônibus, metrô ou carro, até porque os engarrafamentos a qualquer hora do dia inviabilizam muito usá-los. Mas na minha volta ao Rio, retomei o hábito de me deslocar assim e percebi que a cidade continua com características próprias, ótimas ou não.
Eu aproveito para aprender novas gírias com a molecada dos colégios, vejo a moda, sinto saudades do tempo de colégio e dos leitores-passageiros de quem eu filava as notícias do Fluminense, e ainda tenho a chance de ver o que mudou na cidade de onde fiquei longe por quase 30 anos, mas não é isso que me chama mais atenção.
Gostaria de conhecer o método de seleção dos motoristas, que em função do bom-humor carioca são chamados de “pilotos”, mas tenho certeza que este apelido está mais próximo da realidade do que da brincadeira.
Ainda estou em dúvida ou no dilema Tostines decidindo se eles “ganham pouco por isso são péssimos, ou são péssimos por isso ganham pouco”, o que vejo no entanto são “qualidades” impressionantes.
Será que são recrutados em autódromos, ou em “pegas” clandestinos pela cidade, porque a velocidade que estão acostumados a andar impressionam até os tacógrafos que dizem que existem em cada carro.
Após o recrutamento ou apresentação, há um exame de vista, totalmente específico. O sinal só tem uma cor: verde. A capacidade de achar poças d’água perto das calçadas é de precisão cirúrgica. Ignorar qualquer tipo de sinalização no asfalto, seja faixa de pedestre ou delimitando pistas também deve ser uma habilidade requisitada. E finalmente escolher os passageiros, pois poucos, eu diria pouquíssimos, são aqueles que conseguem entrar logo no primeiro ônibus que precisam, pois passar por fora deve ser uma diversão.
O próximo exame é o de coordenação motora, e aí se revelam as mais impressionantes habilidades. Dirigir um veículo grande, em velocidade elevada, falando ao celular, ou com o cobrador, prestando atenção em como sacanear ciclistas e motociclistas, escolhendo passageiros e ainda fazendo sinal para os passageiros pegarem o veículo de trás quando passam por fora, reconheçam, é para poucos.
E finalmente, o ponto alto, nenhum deles tem a menor noção dos nomes das ruas, quais os pontos importantes do itinerário, e ainda reclamam que quem tem que saber que linha pegar é o passageiro, afinal não é obrigação deles.
Esses profissionais são escassos, é verdade, já vi vários anúncios em ônibus recrutando pessoas para o serviço. Claro que as habilidades serão testadas, e estes candidatos ainda terão que ser informados que não “pilotarão” ônibus e sim charretes estilizadas onde os cavalos ficam dentro do motor, e como vantagem para frear não precisa gritar “ôôô”.
Entendi também que as autoridades são responsáveis pelos buracos e bueiros abaixo do nível do mar, em uma espécie de vingança contra aqueles que reclamam deles, isto é, todos os passageiros.
Isso tudo faz parte de vários problemas econômicos das grandes cidades, renovação de frota, padronização dos veículos, treinamento dos motoristas e cobradores, condições favoráveis de trabalho e trânsito viável que permita menores deslocamentos em tempo mais condizente.
De acordo com as últimas estatísticas no Grande Rio cerca de três milhões de pessoas se utilizam de ônibus. É muita gente para não ter uma atenção específica. Cerca de 75% da frota tem mais de oito anos de rodagem ininterrupta e somente 20% dos ônibus possuem ar-condicionado, apesar das promessas de nosso alcaide, que acredita que moramos em Estocolmo.
Os administradores das grandes cidades brasileiras se preocuparam em realizar obras para desafogar e não para circular, e agora que os tempos de circulação dentro dos ônibus ãumentaram, o lucro das empresas está caindo, e o serviço de péssima qualidade, a população pede o que tem direito. No entanto, a remuneração que se vê hoje não atrai empresários, a não ser em oligopólios e conchavos com o poder, e atrai empregados despreparados para atender o público. Soluções a curto e médio prazo não existem. A longo prazo, somente o metrô ou seus derivados, como trens de superfície ou veículos leves de transporte como vemos fora do país.
Enquanto não há planejamento e o nó só aperta, a população entende que é melhor pagar pouco. Dentro em breve deveríamos receber dinheiro para nos sujeitar a este transporte público.
Parabéns Mauro tá ficando ótimo ler seus artigos , já virou um vício !! Continue assim beijos
Com amigos assim, tenho certeza de que voltei ao RJ para ser feliz. Obrigado, bjs.
Adorei , Mauro! Parabéns! Nosso “namoro” para publicar na minha revista ganhou impulso! Amanhã temos reunião do conselho e vou encaminhar!
Que bom! Fico no aguardo! Mas o principal que tenha gostado. Muita gentileza o elogio.