Várias são as imagens condizentes com a condução da política econômica no Brasil. Podemos falar de um quebra-cabeça, de um equilibrista sem rede de proteção, de um malabarista de pratos entre outras tantas que demonstram a dificuldade e a necessidade de se ter controle e uma direção com parâmetros e metas.
Neste momento, os candidatos à presidência com chance de vitória e seus possíveis comandantes da economia pensam como farão uma “arrumação da casa” em 2015, para induzir o crescimento da economia no ano seguinte.
A primeira tarefa é a recuperação da confiança nas ações do governo. Se não houver certeza do caminho que será percorrido, os agentes econômicos continuarão a postergar investimentos e sem eles não há crescimento. Nessa tarefa o governo deverá mostrar austeridade e comprometimento com projeções factíveis.
Depois, deve haver o desarme de cada armadilha criada por ignorância, incompetência ou populismo pelos governos anteriores, o que demandará trabalho e independência, pois não existe nenhuma solução rápida, e o que é pior, todas estão interligadas.
A inflação tem quatro importantes pontos: a) frouxidão fiscal, pois o governo gasta mais do que arrecada, eleva crédito e cria desconfiança sobre a moeda. Logo praticam-se reajustes preventivos; b) tarifas públicas represadas, como transporte público nas grandes capitais, combustíveis e todos os problemas com a energia elétrica, apesar dos reajustes desse item passarem de 18% ao final do ano; c) a livre flutuação do câmbio, hoje em grande parte controlado pelo Banco Central; d) a taxa de juros hoje inibe parte dos preços e investimentos, mas não consegue exercer seu papel total diante da inflação, pois o governo gasta além do que pode e aí voltamos para a letra a.
O câmbio está defasado conforme colocado acima e tem um espaço para se valorizar em relação ao real. O BC com operações de swap tem conseguido manter a cotação em patamar que não “atrapalha” a inflação, mas desarruma o resto da economia. Portanto, é preciso se desarmar as operações de swap que montam a 95 bilhões de dólares, e que devem dar um prejuízo forte ao BC reduzindo ainda mais o superávit primário, absorver com austeridade fiscal a alta de preços proveniente da elevação do dólar e depois colher exportações melhores e qualidade na entrada de recursos externos no país. Em 2014, dos 60 bilhões de dólares que se estima que entrem de recursos externos 40% são para aproveitar as altas taxas de juros e o câmbio defasado, ou seja, dinheiro de má qualidade.
As contas públicas estão com superávits primários à custa de manobras fiscais, dividendos que “sangram” estatais e receitas extraordinárias que deveriam em tempos normais serem aproveitadas para gastos extraordinários. Esse trabalho será o mais longo e penoso do próximo governo e arrisco-me a dizer que também assombrará aquele que começará em 2019 também. Não falo de reduzir gastos sociais, mas a máquina administrativa, controlar as despesas da previdência, fechar os empréstimos a Estados, e colocar em dia os repasses que estão sendo postergados. Isso custará, sim, alguns pontos do PIB. É possível que o crescimento dos próximos dois anos tenha interferência dessa contração. O assunto BNDES X Tesouro Nacional deverá ser visto de maneira separada e com cautela, mas é fundamental que essas contas “se encontrem” em algum momento.
Conforme já escrevi anteriormente, os últimos governos não adotaram políticas industriais e sim, arranjos e medidas pontuais para determinados setores e até empresas. Uma mudança nesse cenário também é algo para dois a três anos e seus efeitos só se fariam sentir dentro de quatro ou cinco, mas uma recuperação na confiança já trará alívio, pois com uma base estatística muito baixa, 2015 deve apresentar um resultado positivo que aumente o apetite a investimentos.
As duas principais estatais estão em situação ruim, a Petrobras frequentando todas as páginas do jornal, e a Eletrobras, sem o mesmo poder de reação de sua coirmã, tem que ter empréstimos para recomposição do capital de giro, pois foi totalmente prejudicada na “canetada” de 2012 para redução das tarifas de energia elétrica, recompostas quinze meses após terem sido reduzidas.
O trabalho será grande e ao mesmo tempo delicado, pois envolve fatores econômicos e políticos, além de afetar as contas do governo e o bolso da população.
Há pessimismo pelo que foi feito nos últimos seis anos. Mas só medidas realistas cabem no que deve ser feito nos próximos oito ou dez.