A lógica da falta de lógica

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A lógica

Na última semana fomos atropelados pela enorme quantidade de notícias sobre a polêmica compra da refinaria em Pasadena nos Estados Unidos pela Petrobras. Muito se falou sobre a empresa, sua estrutura de comando e seu aparelhamento. Diversas declarações dadas como verdade absoluta foram desmontadas ou desmentidas com o passar dos dias, várias manchetes envolvendo a cotação das ações e o valor da empresa no mercado também foram vistas, e posso dizer sem medo de errar que a maioria não tinha ideia do que estava falando quando abordou esses números.

Longe de encerrar o assunto e sem entrar no mérito dos investimentos duvidosos da empresa nos últimos anos, queria falar sobre a lógica da falta de lógica do mercado de ações.

A queda do valor da Petrobras no mercado de ações é um processo de longo prazo, que acompanhou toda a redução de rentabilidade da empresa. O ponto principal, pouquíssimo mencionado na semana passada, é que a empresa subsidia fortemente a gasolina e o óleo diesel, a ponto de perder mensalmente o equivalente a uma refinaria de Pasadena. Os cálculos feitos por analistas de investimentos que cobrem a empresa é que o seu caixa foi destruído em três anos. Seriam 36 bilhões de dólares nesse período. Isso para manter a inflação dentro da banda de cima de tolerância. Essa é a primeira armadilha que a empresa precisa enfrentar: como voltar a ter preços compatíveis com a atividade sem estourar a inflação. Para isso, serão necessários anos de trabalho.

O endividamento mencionado nos jornais tem um por quê. A partir do problema de preços subsidiados, a Petrobras começou cada vez mais recorrer a empréstimos para manter seus programas de investimentos, que seriam um dos motores para o crescimento do PIB, considerando sua amplidão e a enorme cadeia de produção que envolve os setores de prospecção, extração, refino e distribuição de petróleo e seus derivados. Mesmo assim, o PIB não decolou e a empresa tem hoje um endividamento que corresponde a 3,5 vezes a sua geração de recursos anual, quando outras semelhantes, que também tem grau de investimento, mantêm endividamento entre 2,8 e 3 vezes. Essa é a segunda armadilha: o desmonte desse endividamento, mantendo os investimentos, passará por decisões muito difíceis.

A produção de petróleo vem apresentando queda nos últimos dois anos. A empresa alega uma série de eventos, alguns de força maior, outros decorrentes de problemas internos. Certos especialistas afirmam que a empresa antecipou produção para se declarar autossuficiente em um momento eleitoral importante e isso trouxe consequências. Nos planos da estatal, a produção de 2020 será o dobro daquela obtida em 2013. Isto quer dizer um crescimento nunca visto em nenhuma empresa do setor. Para solucionar os problemas financeiros enfrentados hoje, uma produção 30% maior já seria um grande passo, significando algo como 4,5% ao ano de crescimento, percentual bastante elevado. O aumento da produção não depende só da Petrobras, pois as regras do pré sal impõem um percentual de produção nacional de equipamentos acima da atual capacidade das empresas fornecedoras, e elas não demonstram intenção de investir se não virem capacidade da estatal de pagá-las. Ou seja, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É a terceira armadilha a ser desarmada pela empresa. Um grande entendimento e a recuperação de sua credibilidade deverão ser conquistados com planos de investimentos claros e críveis.

Na última semana, o valor da Petrobrás subiu 16,43 %, seguindo a lógica de que se os problemas foram descobertos pelo grande público, a pressão por melhora será maior e no mercado de ações se compra o futuro. Mas há de se ficar atento, pois se nada acontecer o valor da empresa descerá a patamares ainda inferiores.

Atualmente, quanto pior ficar o noticiário, melhor para a ação, pois a lógica da falta de lógica é que depois da tempestade vem a bonança, e esta virá com um possível expurgo na empresa e a expectativa de melhores práticas de governança.

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