Fala sério, ministro!

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mantega

O ministro Guido Mantega deu algumas declarações dignas de comentários na edição de hoje do programa Bom dia, ministro, transmitido pela EBC. Versavam sobre alguns dos pontos mais discutidos atualmente pela imprensa e pelos analistas econômicos, nacionais e internacionais. Disse ele:

— A inflação média está em 5,8%, muito menor do que era no passado, e não vai fugir do controle.

Mesmo que haja inflação, o importante é que o poder aquisitivo da população esteja crescendo mais do que essa inflação que ocorre normalmente todo ano.

Os trabalhadores estão ganhando reajustes de salário de 7% ou 8%, algumas categorias tiveram seu salário duplicado

Outra afirmação:

— O importante é que a média de preços não ultrapasse um determinado patamar, que está em torno de 5,5% e 5,7% e que o salário brasileiro esteja crescendo acima desse patamar.

 

Não há nenhuma dúvida que comparações com dez ou quinze anos atrás são favoráveis ao governo. O que se critica é que, diante de uma meta de 4,5%, não haja nenhuma ação por parte do governo para reduzir o índice para o centro da meta. Isto é, economizar. O Banco Central é agente reativo. Os juros sobem quando já há sinais de inflação. Atitudes do governo podem ter caráter preventivo.

A inflação deve ser baixa o suficiente para que o ganho do trabalhador seja um  tanto maior. Não há motivos para se vangloriar porque mesmo com inflação há reajustes acima do índice. Isto não eleva a produtividade e acaba por prejudicar a criação de novos empregos e a competição com concorrentes internacionais. É um raciocínio típico de economistas de sindicato.

Disse ele:

— O Brasil deve crescer entre 2% e 2,5% neste ano.

Embora a economia esteja sólida, teremos dificuldade para exportar para vizinhos da América Latina.

Precisamos da recuperação da economia internacional para utilizar todo nosso potencial produtivo. Enquanto isso não acontece, estaremos crescendo a taxas menores que nosso potencial, a 2% ou 2,5%.

Quando os mercados se recuperarem, o Brasil vai crescer entre 3% e 3% com facilidade.

 

Apesar de ser uma projeção mais realista do que as anteriores, ainda assim se mostra bem superior ao que é imaginado pela imensa maioria dos economistas nacionais e estrangeiros e do que o próprio BC. Esse é um dos motivos do rebaixamento, as previsões que nunca se concretizam. Houve alerta quanto aos problemas com vizinhos há cerca de três anos, mas a insistência monocórdia do governo criou a atual situação. Nos últimos quatro anos o ministro se gabou do crescimento superior ao dos demais países do G20, e agora o atrela a eles. O que vale afinal?

Disse ele:

— O Brasil continua a receber investimento estrangeiro direto (IED) porque é atraente. O país tem grande mercado interno, permite bons negócios, e rentabilidade para investidor. As multinacionais querem desfrutar disso. É grande interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil.

O efeito do rebaixamento pela S&P foi nenhum. Não vi nada, nenhuma repercussão.

 

Não há questionamento sobre a atratividade do país. O que há é uma perplexidade quanto à demora de entender que o governo não pode e nem deve alterar ininterruptamente as regras para investimentos, por exemplo, como os leilões de infraestrutura, atrasados em três anos por pura teimosia. O que se analisa é que o país conseguia financiar seu déficit em conta corrente integralmente com investimentos externos diretos e que isso não acontece há dois anos. O que se analisa é a qualidade dos investimentos nos últimos dois e anos e que seguiu desta maneira no primeiro trimestre deste ano. A fatia de investimentos em títulos do governo para aproveitar a elevação dos juros cresceu. A conta no final é a mesma, mas a saída pode se dar a qualquer momento, diferentemente de investimentos produtivos.

E não há necessidade de ser nenhum grande economista para observar que os efeitos do rebaixamento já estavam presentes antes da notícia. Ela apenas confirmou o que se dizia havia seis meses.

O ministro segue com meias-verdades, com ironias típicas de um membro de equipe de campanha eleitoral.

Esquece que comanda a economia de um país. Aliás, esquece que ele pensa que comanda.

 

 

 

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