Tangos e tropeços

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Aulas de Dança II

Quer arrumar uma maneira de brigar com a sua mulher? Comece a tomar aulas de dança de salão com ela.

Fiz isso durante um ano e eram segundas-feiras infernais! Por que não parei? Essa seria a pergunta óbvia. Porque nós dois gostávamos de dançar. E então por que brigávamos tanto? Essa seria a pergunta de algum desavisado. Simples. Os dois estavam convencidos de que o outro não seguia adequadamente as instruções da professora, numa implicância quase adolescente.

— Dá para olhar pra mim e não para os seus pés?

— Quando você parar de pisar neles, prometo que paro.

— Percebeu que a professora disse para fazer o passo mais rápido?

— Percebi. Mas antes de fazer rápido, faço devagar para aprender. Ou você saiu correndo antes de andar, quando era criança.

— Sempre tão engraçadinho. Tem que ter a última piada.

— Não é piada. É um jeito de diminuir o mau humor.

As coisas pioravam quando a professora ordenava a troca de pares. Por uma questão de educação, quando dançávamos com estranhos não reclamávamos e caprichávamos no esforço para acertar, para que não pensassem mal da gente.

Quando nos reencontrávamos, vinham as cutucadas tradicionais:

— Nossa! Meu par me conduziu sem problemas. E eu não pisei no pé dele. Acho que o problema é você.

No que eu devolvia:

— Engraçado… Dancei com uma senhora mais velha que você. Parecia uma pluma. Foi ótimo.

Em questão de segundos, olhávamos um para o outro e ríamos de nós mesmos. E, é claro, a dança saía perfeita e nos divertíamos muito.

O começo do fim da temporada de aulas de dança foi a primeira noite de lições de tango. Não nos entendíamos nem juntos nem com outros pares. Os passos, as pernas trançadas, as passadas com os braços para que ambos pudessem dominar e se divertir com a dança simplesmente não aconteciam.

Passamos pela fase de implicância natural e seguimos para a fase do riso diante do total fracasso, seguimos para a da perseverança e, finalmente, a da raiva.

Saímos exaustos e empapados de suor da quarta aula de tango e nos demos o direito de saborear uma pizza com chope naquela noite de verão paulistano.

— Quanto ritmos já aprendemos?

— Acho que uns seis.

— E o que acha de se dar por satisfeito?

— Ótima ideia. Digamos que não saber dançar tango não deverá ser uma grave falha em nosso currículo.

Estava selada a decisão. Tango só para escutar. Ou para ver o Al Pacino dar um show ao som de Por uma cabeza.

 

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Sem comentários

  • Oscar Rodriguez Barreneche disse:

    Muito divertida a sua experiência, com final feliz, embora no início tenha havido alguma tensão. Mas a vida seria muito chata se tudo fosse perfeito. Um abraço!

    • maurogiorgi01 disse:

      Que casamento não tem inúmeros momentos de tensão? De tesão também! Abraços e obrigado!

    • maurogiorgi01 disse:

      Já respondi uma vez, mas o site avisou que eu ainda não tinha respondido. Então se receber duas mensagens não é falha minha, mas sim tecnológica. Dançar tango não é para qualquer um e no casamento sempre há de haver tensão e tesão. Abraços e obrigado.

  • Sua crônica reforça a impressão: tango só para argentinos. No máximo uruguaios e olhe lá! Mas a música é linda. Bom dia!

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