No último dia 30 houve leilão de energia descompromissada para venda imediata, a partir do dia 1º, e a diferença entre a energia contratada e a contratar caiu 60%. A notícia é boa. Só que o que foi vendido para os próximos cinco anos saiu a preços muito altos, comparado com o que há de contratos de longo prazo na atualidade. A saber: o preço da energia de longo prazo contratada atualmente gira, na média, em torno de R$ 130,00 o megawatt/hora, e no leilão foi vendido, na média, a R$ 275,00. A notícia é boa, pois no mercado livre, isto é, o que falta entre a demanda e a energia contratada no longo prazo, custa R$ 822,00. A conclusão é que mesmo que chova, o preço da energia elétrica vai subir. Existem várias contas a pagar e que estão represadas para o próximo governo. O que foi subsidiado em 2013 será pago em cinco anos, a partir de 2015. O que já foi subsidiado em 2014, cuja conta só saberemos ao final do ano, será pago a partir de 2015 também, mas ainda sem fórmula. O empréstimo que os bancos deram para a parte que o Tesouro Nacional não subsidiou no início desse ano será pago a partir de 2015, em cinco anos. E finalmente a energia do leilão do último dia 30 que é 100% mais cara do que a atual, que também será paga a partir de 2015, ainda sem fórmula. Alguns especialistas acreditam que o item energia elétrica sairá dos atuais 3% dos orçamentos domésticos para 12%, e nas indústrias, de 6% do custo para 19%. E a inflação? Bem, essa é outra história.
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No discurso em homenagem ao Dia do Trabalho, a presidente Dilma anunciou duas medidas que favorecem o rendimento da população: os reajustes de 10% nos proventos do programa social Bolsa-Família e de 4,5% da tabela do imposto de renda para a pessoa física. A segunda medida foi anunciada sem divulgação do percentual, talvez por vergonha, mas o número foi conhecido ainda na véspera do feriado. Uma análise rápida: o reajuste no programa social, acima da inflação oficial, é eleitoreiro — mas quem nunca? O que preocupa é a insistência em um modelo consumista que já deu com os burros n’água. O reajuste da tabela do imposto de renda é enganador, o que é pior que eleitoreiro, pois há uma defasagem de 65%. Isto é, o governo incorporou aos pagadores de impostos milhões de brasileiros nos últimos dez anos e só causou descontentamento, pois pouco deu de volta. Mas a conta perversa é que esse reajuste ínfimo não só foi saudado como um incentivo ao consumo — errado de novo — como foi feito para que a faixa de trabalhadores que mais consome permanecesse isenta, Em outras palavras, a nova classe média criada a partir dos que ganham quatro salários mínimos por mês permanece fora do alcance do leão. Nela se encontra o maior percentual de eleitores do governo. E de novo, quem nunca?
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O governo divulgou as contas públicas do primeiro trimestre. Como não poderia deixar de ser, arrecadou menos do que projetou, apesar dos valores recorde, e gastou mais do que projetou. As revisões são quadrimestrais, então ainda vimos o ministro Mantega colocar sua palavra em jogo ao afirmar que o superávit primário será de 1,9% do PIB. Infelizmente para nós a palavra dele já não é moeda rara ou crível. Entre os fatores importantes para que ¼ da meta não tenha sido alcançada se encontram alguns pontos a destacar: mais uma vez os parâmetros do governo são mentirosos — por exemplo, jamais cresceremos 3% em 2014, projeta-se a metade! A arrecadação do imposto de renda de pessoa jurídica ficou abaixo do esperado, fruto desse crescimento menor. E as desonerações foram acima do esperado, o que é erro de conta, pois nada de novo foi feito e a projeção não podia estar errada!
Por mais que o governo esperneie, a S&P está coberta de razão. As contas públicas projetadas pelo governo são peças de ficção. E ainda completo, ruins demais!
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À medida que avançamos por 2014 e não há sinais de mudança de rota para inflação, contas públicas e contas externas, o ano de 2015 se torna mais sombrio, pois além dos problemas que carregará deste ano, haverá novos. O governo, qualquer que seja, terá um primeiro ano de profunda antipatia pois terá que lidar com reajustes de preços administrados represados e maior desconfiança de investidores e empresários, tanto interna quanto externa. Dentro de um a dois meses, se não houver alteração no atual quadro, as projeções de 2015 começarão a ficar piores. O exemplo mais claro é com relação à inflação que flerta com o estouro do teto máximo da tolerância de 2pp sobre a meta de 4,5%. Será que é por isso que ele nega tanto o “Volta Lula”?