Quase vazio

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

Meio Vazio I

Nas explicações do ministro Guido Mantega sobre o pífio crescimento de 0,2% do PIB no primeiro trimestre de 2014 e nas reclamações do ex-presidente Lula dirigidas ao secretário do Tesouro Arno Agustin repousa um diagnóstico errado, de ambos, sobre a economia brasileira. Não há falta de crédito, como disse Mantega. Não há espaço para isso. As famílias estão com renda comprometida e sentem receio do desemprego. As indústrias não têm confiança para investir sem saber o nível real da inflação, dos juros e do custo da energia. Não há falta de vontade do secretário do Tesouro em emprestar dinheiro ao BNDES, à Caixa Econômica ou ao Banco do Brasil, como talvez quisesse Lula. Não há mais espaço. Cito a exposição feita pela agência de classificação de risco Moody’s na quarta-feira passada: os bancos estatais brasileiros estão com baixa qualidade em seus ativos e elevados níveis de inadimplência. É um aviso de que, se prosseguir a expansão do crédito, num movimento contrário ao dos bancos privados, pode haver redução de rating.

As desculpas do ministro Mantega são sempre as mesmas. Isto é, por aqui não há nada de errado, a culpa é dos outros.

O ex-presidente Lula é mais esperto em termos eleitorais. Antecipa que os próximos números da economia serão um desastre e por isso já colocou na linha de frente os culpados: imprensa (como sempre), bancos e empresários (quando convém), além de alguns membros da atual equipe econômica, entre eles o secretário Arno Agustin.

Não sei quais serão os rumos da campanha eleitoral, mas as projeções para a economia são sombrias. A situação econômica do país é ruim, como sabem os mais informados. Os próximos meses produzirão grande quantidade de notícias desastrosas para o governo, como também sabem os mais informados. Então é importante se precaver.

A inflação no período de doze meses se manterá sempre próxima ao teto da banda, 6,5% até o fim do ano e não há espaço para nenhum movimento. Aliás, quanto menos movimento melhor. Para que a inflação caia, como quer e torce o governo, a atividade econômica tem que esfriar ainda mais, mas as consequências são desastrosas.

A situação de liquidez internacional seguirá elevada e por esse motivo o Banco Central pensou que podia ter menos presença no mercado cambial, mas depois que anunciou isso, em três dias o dólar subiu 2%. Logo voltou a situação de intervenção diária. Mas temos 360 bilhões de dólares em reservas – diriam muitos. Porém, é bom lembrar que 25% desse valor já estão comprometidos em operações futuras. Logo a tranquilidade não mora mais ali.

O PIB do segundo trimestre, a ser anunciado quarenta dias antes do primeiro turno da eleição presidencial, tem grande chance de ser negativo, e se não for será semelhante ao 0,2% do primeiro trimestre, jogando por terra a previsão de crescimento de 2,3% do governo. Mas se existe inferno astral, este indicador pode ser negativo e a revisão, que acontece normalmente, do trimestre anterior pode trazer o número de +0,2% para -0,1% o que tecnicamente caracterizaria uma recessão em pleno ano eleitoral.

Essas situações levariam ao pior de todos os cenários: as demissões. A indústria automobilística já começou; o resto da cadeia está ainda aguardando algum tipo de ajuda do governo,  que acredito que não venha.

Quando a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou o Brasil, houve grita geral do governo, e agora se percebe que ela estava certa e que não seria surpresa se outras agências também nos rebaixassem, apesar da proximidade das eleições.

O governo deve centrar atenção agora no sucesso da Copa, na empolgação dos torcedores, e no jeitinho nacional para driblar as falhas. Mesmo assim continuaremos a ter a divulgação de dados negativos.

Quando os números ruins de nossa economia ainda eram projeções, Diogo Mainardi, membro da bancada do programa de TV Manhattan Connection,  teve uma pequena discussão com Luiza Trajano, a acionista majoritária e CEO do Magazine Luiza, que acusou a ele e aos demais críticos do governo de verem sempre um copo meio vazio. Ela afirmou que, sob seu ponto de vista, o copo estava meio cheio.

Se pudesse, gostaria de perguntar à dona Luiza se ela ainda acredita que muitos insistem mesmo em ver o tal copo “meio vazio”. Em comunicado feito a seus acionistas ela afirmou que fecharia nove de suas lojas por volume de vendas abaixo do esperado.

É, dona Luiza, acho mesmo que o copo corre o risco de ficar totalmente vazio.

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *