Nos últimos quatro meses, temos visto a indústria bater recordes negativos de confiança enquanto comércio e serviços mantêm-se ligeiramente positivos e estáveis, em grande parte graças à influência dos preparativos e da realização da Copa do Mundo. Entre os nossos melhores produtos de consumo e de exportação está o futebol. Anteontem, ele sofreu extraordinária desvalorização num momento particularmente importante, pois mais uma vez vinha em trajetória de alta.
Segundo dados preliminares, nas cidades-sede da Copa, os estrangeiros são responsáveis por 60% dos gastos em serviços e 45% no comércio, abaixo das expectativas. Os brasileiros, porém, superaram todas as projeções. Um sucesso no torneio poderia manter o desempenho da economia dentro dos parâmetros atuais. Vejam, não haveria melhora, mas manutenção da projeção pífia que existe, que é um crescimento do PIB de 1,4% em 2014.
A saída com vexame é o pior cenário para o comércio e os serviços. Ela interrompe uma das últimas expectativas de economistas e analistas sobre o desempenho da economia do país. O terceiro trimestre fica, dessa forma, comprometido, pois nas vésperas de eleições importantes é natural e sazonal um arrefecimento da atividade econômica de modo geral.
A produção industrial com o desempenho muito ruim, conforme projetado por todos, pode terminar o ano com contração de até 1,5%; o comércio e o setor de serviços se manterão estáveis nos cenários mais otimistas, e todo o peso de algum crescimento superior a 1% para a economia do país sobra para a agroindústria, que mais uma vez terá desempenho positivo, mas começa a se queixar dos custos elevados e do câmbio desfavorável.
Nem mesmo a teoria conspiratória de que uma derrota na Copa seria de alguma forma positiva para o país permanece de pé. A acachapante goleada perpetrada pela Alemanha pode afetar a confiança dos empresários de serviços e do comércio, o que levaria a economia do país a um desempenho ainda pior do que o projetado.
Sem dúvida são suposições em torno de um possível comportamento do consumidor. São conjecturas em torno do que temos até agora em termos de números para a economia do país em 2014. No entanto, é importante lembrar que, as famílias estão com endividamento elevado, o emprego não é mais tão farto, os juros estão altos, a inflação não está baixa e os investimentos estão sendo adiados. O panorama de curto prazo é, no mínimo, difícil.
Resta-nos esperar que nada de pior aconteça, pois o quadro já é bem ruim. Porém, como dizem ultimamente, nada está tão ruim que não possa ficar pior. Pelo menos em termos de futebol essa máxima pode se concretizar caso a Argentina se torne campeã mundial no estádio construído para que nós erguêssemos a taça.