Passado no presente

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Amores vêm e vão. Alguns são breves, outros, longos. Para pouquíssimos eleitos existem aqueles que duram de verdade.

Para mim, chegaram e partiram, mas guardei todos. Cada um deles ficou com um pedaço de mim, intocados, já livre das mágoas que podem ter trazido. Joguei-as fora e às vezes, é verdade, com elas também se foi boa parte do amor, mas não tudo. Sempre sobra algo, mesmo que ínfimo daqueles momentos, horas, dias ou mais. Frases. Olhares. Sorrisos. Lágrimas. Guardo tudo praticamente catalogado. Quanta frieza a minha! Ou não?

Será que tais momentos foram mesmo bons ou será que servem apenas para compor uma biblioteca para a memória? Pode parecer até engraçado ou mesmo paradoxal, mas há ocasiões em que encontro algo escondido em algum canto empoeirado das lembranças e reclassifico imediatamente. Ponho em ordem dentro da devida caixinha. E lá ele fica guardado, não mais escondido nem empoeirado.

“Viva o presente. Planeje o futuro. Desamarre-se do passado.” Esse tipo de conselho pode ser encontrado até em biscoitos chineses da sorte. É um equívoco. Não sou prisioneiro das lembranças. Elas fazem parte de mim e construíram a pessoa que escreve nesse exato momento.

Mantenho contato com esses amores ainda hoje, sem a menor pretensão de revivê-los, menos ainda de fazer com que se lembrem do que vivemos juntos. Aqueles momentos são meus. Minhas histórias. Minhas sensações. Meus amores passados a limpo.

Não me desfaço de lembranças em detrimento do presente, muito menos em nome de um futuro incerto. Os amores presentes têm e terão espaço como os do passado. Quanto ao futuro, não garanto nada, pois não sei o que haverá por lá. O que importa é que foram amores e que permanecem no lugar merecido, na memória boa, nos momentos engraçados. Eles vêm me resgatar sempre quando as coisas apertam.

O Milton Nascimento e o Fernando Brant escreveram:


Há um passado no meu presente,
o sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão.

 

No meu caso, quem me dá a mão é uma das minhas musas. Ela aparece de dentro de mim, me ampara e me escuta, me dá a mão e afaga meus cabelos. Na paz da memória, os momentos são eternos. Não digo que foram tantas, mas estão sempre por ali, quase que brincando de se revezar no primeiro lugar das lembranças.

 

 

 

 

 

 

 

 

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6 comentários

  • Mariane disse:

    Já li o post antes e acho até que o comentei. Hoje é outro momento e ele continua lindo. Isso meu querido e habilidoso escritor Mauro, nossas lembranças nos constituem e como vc, não jogo nada nem ninguém fora. Nossos amores são a nossa melhor parte, vão nos forjando aos poucos.

  • Chico Nobrega disse:

    Maurinho, vc citou Milton Nascimento e Fernando Brant, eu elenco de bate-pronto com Paulinho da Viola: “Eu não vivo no passado, é o passado que vive em mim, junto com o presente e o futuro”.

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