Em uma campanha publicitária para o Dia dos Pais, uma empresa de telefonia mostra a invasão das redes sociais por parte dos pais de qualquer idade. Sob o tom de brincadeira, não é possível deixar de identificar uma crítica aos tempos atuais, em que tudo parece ser feito para que outros saibam, vejam, gostem ou não, aprovem ou não. Ou melhor, curtam ou não. Como autor de um blog, seria um tanto de desfaçatez de minha parte declarar aversão à presença nas redes sociais. Mas também não me incluo no rol daqueles que transformam sua participação em uma espécie de “querido diário” on line.
Não quero que ninguém se sinta ofendido com a minha opinião. Simplesmente não acho razoável permanecer atracado a um smartphone, tablet ou laptop ininterruptamente fornecendo informes sobre sua vida e comentando a alheia. Cada um faz o que quer, o que gosta e/ou o que pode. Minha sensação é que a tal aldeia global descambou em cortiço global com paredes invisíveis, ouvidos imensos, olhos em todos os lugares e habitantes que nunca saciam sua sede de saber dos outros. É uma proliferação de “partiu festa”, selfies nem sempre tão lisonjeiros, descrições alimentares e até redundâncias do tipo “chove e faz frio”. Ora bolas, para isso basta abrir a janela ou consultar a meteorologia.
Não estou falando de demonstrações de amor de família, nem de carinho dos amigos, nem da preocupação normal da turma de amigos mais próxima. Vivemos com naturalidade um cenário de invasão absoluta da vida dos outros, coisa que já foi institucionalizada nos questionários de inscrição de concursos que pedem mais informações do que o censo do IBGE ou nas perguntas esdrúxulas para simples pedidos de visto de noventa dias do Consulado dos Estados Unidos.
Existe uma fome atávica por informações – e, acredite, considero que estou em processo de cura desse mal – somada a uma espécie de patrulhamento caso a resposta pretendida não venha na velocidade esperada caso você não atenda o celular, não curta a foto, se exima de comentar o nascimento da ninhada da gata vira-lata da vizinha a cinco prédios depois do seu que, por conhecer sua faxineira, já se julga íntima. “Sacanagem. Você não respondeu ao meu whatsapp!”. “Desculpe-me. Às três da manhã, tenho o péssimo e antigo hábito de dormir.” Parece não haver limites, horários, respeito às opções e aos desejos de cada um. Chega disso!
Parece-me que a sociedade é pendular e jamais conseguirá algum equilíbrio entre derrubar barreiras e se instalar no sofá da sala do vizinho. Para um tímido, isso se torna praticamente um problema de saúde pública. Quando apareceram possibilidades de comunicação que dispensavam a emissão de sons, cheguei a pensar que havia descoberto o paraíso. Essa fase durou pouco. Hoje, sinto-me como um dinossauro num mundo que até tentei acompanhar. Mas se antes o contato social me era difícil, testemunhar e compartilhar a vida a cada prato ingerido me soa como uma invasão bárbara. E uma repetição infinita. Todo mundo passa por momentos bons e ruins, problemas, felicidades efêmeras ou duradouras.
Prefiro manter meus limites – barreiras, como alguns poderiam chamar – e evitar boa parte dessa promiscuidade digital com a vida alheia. Especialmente porque jamais darei abertura para que participem tão intimamente da minha.