Na última sexta-feira, a Petrobras divulgou o resultado referente ao segundo trimestre de 2014 e o acumulado do primeiro semestre. Os números vieram abaixo das expectativas mais pessimistas. A maior empresa do país e a de maior valor de mercado de acordo com suas cotações em bolsa patina entre erros do seu acionista controlador e a corrida contra o tempo para produzir mais nos campos do pré-sal.
A queda em relação ao período janeiro-março deste ano foi de 8%. Importante ressaltar que no primeiro trimestre a empresa foi afetada negativamente em 2,8 bilhões por conta de programa de demissão voluntária. Isto é, caso não levássemos em conta esse fato não-operacional, a queda entre o primeiro e o segundo trimestre seria de 15%.
Ao comparar os resultados de todo o primeiro semestre de 2014 e 2013 a queda foi de 25%, e sem o resultado não-operacional negativo mencionado acima seria de 29%. Feitas essas comparações para que falemos em bases iguais, vemos que o resultado foi muito ruim, mesmo que a empresa tenha passado os três últimos meses exultando a sua produção nos campos do pré sal. Realmente, pode-se considerar um feito sem precedentes o fato de ter conseguido extrair uma média de 500 mil barris/dia num intervalo de cinco anos, com tecnologia própria, superando enormes dificuldades logísticas. A façanha já foi inclusive destacada por diversos relatórios internacionais. Porém, esse esforço, conquista e pioneirismo estão sendo jogados fora, pois os poços antigos têm tido uma redução de produção muitas vezes acima do esperado. Fica no ar uma dúvida quanto a um possível esgotamento ocorrido há cerca de sete anos, época em que o governo levianamente declarou uma suposta autossuficiência, nunca alcançada.
A produção entre 2013 e 2014 não teve acréscimo relevante, mas a empresa continua acreditando que fechará o ano com crescimento de 7% com 1pp de tolerância para baixo. É esperar para ver. Mas neste momento fica muito difícil acreditar em tal projeção.
Entre 2013 e 2014 dois fatores poderiam melhorar o resultado: a) a valorização do real sobre o dólar reduzindo a defasagem de preços do diesel e gasolina entre o mercado externo e interno; b) a mesma valorização de nossa moeda poderia influenciar menos a dívida externa da empresa no resultado em reais. Mas o aumento do endividamento impossibilitou que o primeiro fator tivesse alguma influência e anulou o segundo.
Com maiores despesas operacionais, menor valor de venda de ativos e o famoso “congelamento” de preços, a situação da empresa já projeta um futuro muito difícil. Se acrescentarmos que ela piorou a relação entre a geração de caixa e sua dívida bruta, o futuro próximo, algo como 18 a 24 meses, será complicado, mesmo que se consigam reajustes dos preços dos combustíveis. O horizonte se complica a cada dia sem reajuste, a cada redução de produção dos poços antigos e a cada elevação da alavancagem para prosseguir com aumento de produção do pré-sal.
Quanto ao aumento do preço da Petrobras em bolsa? Como já foi amplamente dito, causando enormes problemas a quem disse, a cada queda da aprovação da presidente Dilma ou aumento das intenções de voto na oposição, o preço das ações sobe. Mas, o inverso ainda é a realidade. Assim, todo cuidado é pouco.