Aos catorze anos, lá no meio da década de 1970, Na rua, na chuva, na fazenda… , sucesso de Hyldon, embalou o meu primeiro namoro. E claro que eu acreditava que ele seria eterno. Por isso, nem me importava saber se a canção estava na moda ou era ligeiramente brega. Minha memória trabalha sem parar e a cada vez que ouço uma determinada música, revejo um filme ou mesmo quando me encontro em certos lugares, eu revisito também diferentes momentos de amores que vivi. Não seria delicado nomear os amores e seria uma enorme pretensão achar que se lembram de mim ou até mesmo imaginar que poderiam ler o que escrevo. As músicas podem parecer corriqueiras, mas remetem a muitas coisas.
É o caso, por exemplo, de Feelings, de Morris Albert, muito antes de haver acusações de plágio. Imenso sucesso na época, ela embalou o começo de outro namoro e também muitas danças de corpo colado. E naquela época, era corpo colado mesmo! É engraçado como não temos o menor pudor de ser brega quando apaixonados.
E não faltam clássicos como Do you wanna dance, de Johnny Rivers, que serviram de trilha sonora para várias gerações de apaixonados. Para mim, provoca lembranças misturadas que precisam ser delicadamente separadas. A voz espetacular de Barry White recitando e depois cantando Just the way you are, esteve presente em muitos momentos de longos beijos. Na ocasião, era perfeita. Minha turma não “aprovava” muito o namoro, mas como dizia a letra “Baby, I love you, I love you just the way you are”. Ela achava lindo! Era paixão no mais puro estado de torpor mental, sem dar um segundo para o pensamento racional. Em outra etapa, Endless love, com Dianna Ross e Lionel Ritchie, embalou bem mais do que beijos. E o bom era que a música era longa…
Algumas canções inesquecíveis fogem aparentemente do tema romântico. No final dos anos 1970, às vésperas de eleições, Chico Buarque me faz lembrar os tempos do vestibular e tentativas frustradas de aproximação de coração importante quando ouço Apesar de você e Tanto mar. Foi um momento ruim e bom. Será que dá para entender? Ruim porque ela era importante e bom porque acho que seria desigual. Eu gostava dela mais do que ela talvez pudesse gostar de mim. Juvenil e egocêntrico. Quem nunca foi? Na mesma época, as canções de Embalos de sábado à noite animaram festas em que rolaram muitas garrafas de uísque Teacher’s, resultando em muita ressaca aos domingos.
Em nenhuma trilha sonora romântica pode faltar Frank Sinatra. Dancei ao som de New York, New York dezenas e dezenas de vezes em festas, boates, em casa e até no Central Park, não necessariamente nessa ordem e não necessariamente com a mesma pessoa. Outro clássico é Tony Bennett, com The way you look tonight e mais danças de rosto colado e com o corpo todo colado. Momentos inesquecíveis.
E tive mais momentos bregas ao som de Celine Dion com It’s all coming back. Foi um momento marcante, de reconciliação, e como todos eles, excitante e nem sempre com um final tão bom assim. Cruisin Together com Gwyneth Paltrow foi muito bom, foi muito forte e muito triste.
A trilha sonora dos amores é misturada mesmo, uma espécie de vale-tudo e olha que deixei de fora muita coisa. Pois como disse no início, fazer a memória trabalhar ajuda a reviver ótimas lembranças, mas às vezes também pode dar uma tristeza, um certo ar de Let it be ou de In my life, dos meus eternos favoritos, The Beatles.