Nada saía conforme os planos traçados. O orçamento estourado, a fonte de recursos não apareceu e o início do faturamento correspondia a 10% do projetado. As finanças pessoais já tinham sido atacadas, estavam no vermelho e nada havia para reverter o quadro no curto prazo. Desistir era uma hipótese, mas perderia tudo. Insistir parecia a única saída, mas era preciso uma nova fonte de recursos. A sociedade estabelecida se resumia até ali em um dos sócios entrar com o dinheiro, no caso eu, e o outro com, “prestígio”. Parti para operações com mais risco e maior possibilidade de ganho.
O mês de setembro estava no início e parecia promissor até aquele momento, com ganhos dentro do esperado. Aquele era mais um dia de sol no final do inverno paulista. Discutíamos o efeito do apagão de energia elétrica nos balanços das empresas enquanto aguardávamos a abertura dos mercados. De repente, pisca na tela da Reuters a notícia de que um avião havia se chocado em uma das Torres Gêmeas de Nova York. Mudamos o canal de TV para a CNN e vimos o fogo. O choque e a perplexidade tomaram conta de todos. Os comentários se multiplicaram.
Entre as nove e as dez da manhã existe o que é chamado de pré-mercado, com regras específicas e volume menor, de acordo com o permitido. Naquele momento, ao redor do mundo as bolsas atingiram as mínimas, todos os mercados caíram num movimento que eu nunca havia visto. Em questão de minutos o mercado financeiro foi sacudido por uma onda de choque que atingiria o mundo inteiro. Veio o choque do segundo avião, e o que era choque passou a perplexidade e total incerteza.
Fomos comunicados do fechamento dos mercados por uma hora, até que se obtivessem maiores informações. Não havia o que fazer a não ser olhar para a TV, incrédulo, tentando descobrir algo a mais, algo que fizesse sentido. O mundo perdera o bom senso.
Minha cabeça vivia um dilema. Eu tinha certeza de que com aquelas cotações de pré-mercado ainda estampadas nas telas do meu computador eu havia quebrado. Ao mesmo tempo, sabia que poderia haver centenas de mortos naqueles dois acidentes. O que pensar? O que lamentar? O que imaginar? O que fazer? O que tudo?
As notícias permaneciam desencontradas ainda uma hora depois dos choques e as autoridades dos mercados financeiros do mundo decidiram interromper os negócios ou não abrir. Percebi que por muitos motivos aquele seria um dos mais longos dias da minha vida.
Me dei conta que estava em pé, diante da minha tela, olhando a televisão havia mais de uma hora. Não havia falado com ninguém. Se meu telefone tocou eu não percebi. Se alguém se dirigiu a mim, ignorei.
Os informes das agências de notícias passavam tão rápido que não conseguia lê-las e interpretá-las para entender a minha situação e o que estava acontecendo com o mundo.
Começavam as medidas de segurança e, conhecendo os americanos como conhecia, percebi que a situação era tão séria que era melhor traçar o pior cenário possível, pois as notícias de mais quedas de aviões e o total desconhecimento do motivo os colocaria em guerra e isso significava algo que nunca havia visto no mercado.
Depois de muito gritarem pelo meu nome, percebi que havia uma ligação importante para mim. Era um amigo avisando que um ex-estagiário meu, que se tornara meu amigo, estava num dos andares superiores de uma das torres, acima do incêndio, em uma importante empresa de investimentos. Nem lembro o que respondi. Desliguei e não desgrudei mais os olhos da TV.
O resto faz parte da história mundial.
Mas a minha história estava apenas começando. Perdi um amigo. Colegas americanos perderam outros amigos e parentes. O mercado financeiro americano e consequentemente o mercado mundial ficou fechado por oito dias úteis.
Beijei a lona. Não havia sequer cacos para recolher.
uau Mauro !! wow!…. mais um daqueles depoimentos…..
O quebra cabeça vai sendo montado. Obrigado.
Já te falei q vc tem um best seller…. um dia vc vai concordar comigo !!!
Você sempre um gentleman!