Passei 25 anos usando paletó e gravata diariamente. Era como uma espécie de uniforme, com a diferença de que eu podia escolher cores, modelos e variações de acessórios. Nunca reclamei. Gostava e gosto ainda. Claro que o clima influencia, mas me achava elegante na indumentária típica do mercado financeiro na época. No sábado passado, Ana Cristina Reis, do caderno Ela, suplemento de O Globo, dedicou uma coluna para desvendar o significado das cores das gravatas. A leitura me deixou com saudade das minhas.
Sempre me preocupei em me vestir de maneira a passar credibilidade no que fazia, sem perder o conforto, é claro. Devo admitir que alguns modismos não eram talhados para meu tipo físico. Por isso, nunca aderi às gravatas largas e curtas, muito menos às finas e compridas. Sempre dei preferência ao comprimento e largura clássicos, com a ponta da gravata não ultrapassando a fivela do cinto, e a largura não maior do que 12 centímetros na “ponta larga” como me ensinou Casarini, meu alfaiate que atendia na Rua Tabapuã, no Itaim Bibi, em São Paulo. Do início dos anos 1980 até 2007, as modas foram e vieram, voltaram e partiram, e o máximo que fiz foi caminhar em direção a cores menos clássicas e aderir a estampas mais alegres.
A gravata é o único adereço elogiado pelas mulheres quando estamos de terno. Logo sua escolha merece um capricho especial. As ocasiões também costumam ditar o que é mais adequado para o momento. Nunca compareci a reuniões com gravatas de estampas que desviassem a atenção do que eu poderia falar. Enfim, frescuras que podem dar certo de vez em quando.
Mas voltando às minhas gravatas, tomei gosto por elas quando comecei a comprar minhas próprias roupas, tarefa postergada ao máximo por mães italianas. Das lisas e sóbrias do início, quando queria parecer mais velho e experiente do que na realidade era, até as de crochê que davam um ar mais descontraído, as de riscos diagonais imitando as cores e os desenhos dos colleges e universidades inglesas e americanas, até a redenção dada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello com a nova “abertura dos portos” em 1990.
Com viagens ao exterior mais frequentes e promoções na carreira profissional, as gravatas também foram alçadas a um posto mais alto: dar destaque a camisas sob medida e ternos bem cortado. Logo fui às compras em busca das famosas Hermès e Dior, e das então ascendentes Celine, Ferragamo e Zegna, sem me esquecer de adquirir elegantes cabides especiais de madeira. A coleção aumentava nas datas comemorativas e até minhas filhas sabiam do gosto do pai, e passaram a opinar sobre as combinações. Para não haver discórdia entre as duas, elas alternavam na escolha daquela que eu usaria no dia seguinte, depois de uma pré-seleção minha. E com orgulho diziam na escola que escolhiam a minha roupa de trabalho.
Faz alguns anos que não uso mais gravatas. Dei várias delas a quem precisa e aprecia, e guardei alguns exemplares que têm história e representaram momentos profissionais e pessoais importantes. Engraçado como uma coluna sobre um acessório para homens, em um caderno de moda essencialmente feminino tenha despertado tantas memórias.
Obrigado Ana Cristina Reis por me trazer tão boas lembranças.
Bom material no site.
Muito obrigado.