Perguntas de um milhão de dólares

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Pergunta II

O governo fez suas apostas ao controlar o câmbio, afrouxar a perseguição ao centro da meta de inflação e gastar muito mais do que havia arrecadado para fazer a Copa das Copas e ganhar as eleições. Acontece que as apostas foram feitas sem cacife e chegou a hora de pagar. Como o governo é um ente inexistente, quem paga mesmo são os contribuintes, em primeiro lugar, e a população em geral em segundo lugar.

Em março de 2014, o FED e o FMI nos classificaram como um dos cinco países frágeis economicamente no mundo. Ao mesmo tempo, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s  nos rebaixou um degrau. E tudo isso se deu depois que a presidente Dilma Rousseff fez promessas importantes em relação à economia brasileira no Fórum Econômico Mundial, em Davos. O ministro Guido Mantega teve um faniquito e desafiou todo mundo a esperar o final do ano. Sua saída será melancólica. O que temos no final do ano é exatamente tudo que os analistas e economistas sérios, brasileiros e estrangeiros, apontavam. A população sentirá as consequências na carne.

O Banco Central deu o pontapé inicial e elevou a taxa básica de juros, alegando maiores riscos inflacionários. Isto quer dizer mais dias, menos salário, taxas de juros mais altas no cheque especial e crediários, e possivelmente um Natal mais caro e menos gordo.

Na semana passada foi divulgado mais um déficit mensal nas contas públicas, estatística “escondida” pelo governo na última semana da corrida eleitoral. De acordo com as desonerações definitivas, com as projeções para o crescimento da economia em 2015, de cerca de 1%, sem levar em consideração as do governo que são mentirosas há anos, especialistas no assunto dizem que para fazer um superávit que não comprometa o investment grade, o corte de despesas tem que ser grande e aumento de impostos não pode e não deve ser descartado. Para nós, isso quer dizer menos investimentos governamentais, menos emprego e menos crescimento.

Mas, a economia é algo dinâmico, como já enfatizei muitas vezes. Logo o governo tem a chance de, apesar de medidas amargas ou impopulares, reconquistar a confiança do empresariado e dos agentes econômicos, o que poderia reverter parte das expectativas ruins para 2015. Mas terá o governo reeleito coragem de tomar medidas impopulares? As mesmas medidas apregoadas pela oposição e satanizadas nas propagandas eleitorais? Veremos.

O último ponto das chamadas “burrices bíblicas” cometidas pelo governo, está o crescimento do déficit das contas externas. O investimento externo não tem conseguido financiar o déficit. Além disso, esse investimento teve piora na qualidade, com aumento do percentual dirigido ao mercado financeiro. A balança comercial sofre da pior conjunção de astros possível: nosso principal parceiro, a Argentina, está em grande dificuldade, e para lá seguem produtos de maior valor agregado; nossos produtos primários têm queda de preço, tanto as commodities agrícolas quanto as metálicas. Logo a perspectiva para os próximos dois anos é ruim. Esse cenário é o inverso do período do governo Lula, e que não foi aproveitado para melhorar a qualidade dos parceiros ou elevar o valor agregado da balança. Para consertar nossas contas externas, as dificuldades são muito maiores. Reposicionar o real em relação a moedas mais fortes implica em alguma inflação, menos do que no passado, pois a nossa atual inflação tem mais componentes de serviços, mas afetará 2015 sim; implica em prejuízo do Banco Central nas operações de swap e isto impacta as contas públicas, como já ocorreu em setembro passado, além de ter desdobramentos que passam pela desconfiança da operacionalidade da autoridade monetária; implica em preços mais altos para os combustíveis, aumento que pode ser neutralizado pela queda dos preços do petróleo como já vemos. Com certeza em 2015 afetará a Petrobras se esta não tiver sua política de preços revista, e aí iremos de volta a inflação.

De novo, são medidas amargas, mas se tomadas com transparência, simplicidade, sem maquiagem, nos levantam em 2016. Caso sejam postergadas, tomadas parcialmente ou adequadas a um viés populista, a ladeira não tem fim.

Recuperar a credibilidade requer negar tudo que foi dito durante a campanha eleitoral. Quem assumirá esse ônus? Quem terá a coragem de conduzir 2015? Essas são perguntas que valem um milhão de dólares.

 

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