– Quanto te devo, Garrincha?
– Patrão, são 45 paus…
– Tá aqui, obrigado… Até amanhã…
– Valeu… Olha a caixinha…
Lavaram os pés na saída da areia e continuaram a conversar e rir à medida que começavam a andar pelo calçadão. Otavio era um gozador e não perdia a chance de falar alguma bobagem. Mas por trás dessa irreverência, morava um observador sagaz do comportamento das pessoas, mesmo tímido. Ele e Patrícia riram da turma “sem noção” que estava na praia, dos “slogans” dos vendedores de picolé, mate, e sanduíche natural, riram de si mesmo debaixo das barracas e de quando entraram na água sempre gelada do Leblon.
– Vamos comer um lanche ou vamos almoçar algo com mais sustança?
– Prefiro uma coisa mais leve. Foram bobagens demais na praia…
Atravessaram a avenida em direção ao comércio do bairro, como se fossem velhos amigos. Ele se sentia à vontade. Era uma sensação boa demais, estava leve, voltava aos vinte poucos anos. Ela, por sua vez, percebia que ele às vezes a media com os olhos e gostava daquelas miradas meio disfarçadas, como se fosse quase uma olhada através do buraco da fechadura. Também se sentia bem.
Pararam para uma salada e a conversa fluiu, cada vez mais fácil, agradável e honesta.
– Você está de férias, Otavio?
– Não, me dei esse dia de folga. Os últimos quinze foram de negociações fortes para comprar uma empresa. Nem vi a luz do sol. E você o que não está fazendo?
– Eu saí do meu emprego na semana passada. Eu me aborreci muito e acho que merecia algo com mais respeito e honestidade.
– E isso seria…
– Ah tá, sou arquiteta e cansei de trabalhar para grandes construtoras.
Depois do almoço pararam para um sorvete no Itália. Ele, de pistache; ela, de chocolate belga. Os olhares que trocavam já eram diferentes. Mas para que estragar aquilo que poderia ser um boa amizade?
– Onde você mora, Patricia?
– A dois quarteirões para trás daqui…e você?
– No Jardim Botânico…
– Você vem a praia amanhã?
– Sábado?…Acho que não muito cheio, só uma corrida na Lagoa…
– Posso ir também?
– Você corre?
– Eu aguento uns cinco quilômetros num ritmo calmo, pode ser?
– Te acompanho… Mas um cinema hoje bem que podia ser legal também, não acha? Eu adoro cinema e você?
– É uma das coisas que mais me relaxa. Posso estar exausta, saio revigorada sempre… Topo sim, o que quer ver?
– Me dá seu celular e a gente se fala mais tarde.
– Ótimo! Eu cheguei na praia chateada, com medo de ficar um pouco deprimida por causa dessa história de insatisfação profissional. Você mudou tudo! Muito bom começar uma amizade.
Despediram-se com sorrisos mais tímidos do que aqueles que trocaram até aquele momento.
Patrícia balançava a bolsa andando pela rua com um ar feliz, bem melhor do que quando chegara. Legal o Otavio, será que os dois se tornariam amigos? Ou será que havia algo mais no ar?
Otavio foi pegar o ônibus sem se preocupar com uma eventual demora. Pensava no filme que poderiam ver. E aí se pegou tentando adivinhar o que ela mais gostaria de assistir. Estava começando uma das melhores fases de um novo relacionamento: as descobertas.
Opa, tudo joia? curti bastante seu blog 😉 gostaria de te convidar para conhecer o meu, espero que goste também. Vlw