– Te vi no shopping ontem! Tava bem acompanhado. Bonita moça…
– É uma amiga. Conheci há pouco…
Resolveu guardar para si que tinha conhecido Patrícia havia pouco mais de uma semana, na praia. Por enquanto, preferia não dividir com ninguém essa informação.
– Se é amiga, então me apresenta. Vai que…
– Vai que, o quê?
– Calma é só maneira de falar. Xiii, já vi que é mais do que amiga.
Otávio se recriminou por ter sido incisivo demais na resposta. Tinha dado bandeira e demonstrado ciúme da “amiga”. E agora? Como fazer para desmanchar o clima…
– Foi só uma pergunta, cara. É amiga mesmo. No fundo você se acha o maior garanhão. Não pode ver uma mulher sozinha que já acha que pode ser sua…só isso…mais nada…é amiga mesmo…
– Justificou demais Otávio. Cuidado, hein…Se ela sabe desse interesse, pode deixar de ser sua amiga e o caminho fica mais fácil pra mim…
A risada do outro o deixou desconcertado, irritado e com mais ciúme ainda.
– Ô Marcelo, vai…
– Olha a educação que a dona Marcia te deu. Eu conto pra ela…
– Tchau, a gente se vê na pelada no sábado…
– Leva a amiga…
Ele tinha que fazer hora. Marcara com um encontro com Patrícia para as 19h30 e chegara com meia hora de antecedência por pura ansiedade. Será que ela o via apenas como um amigo? E agora como a trataria depois de ter escancarado que a considerava muito mais do que uma simples amiga?
– Oi Patrícia! Chegou mais cedo Que cara é essa?
– Olha, vim logo achando que poderia te encontrar e avisar.
– O quê?
– Um “amigo”… Bom, meu ex quer conversar comigo e eu aceitei… Desculpe, sei que iríamos comer algo e ir ao teatro, mas é que terminamos mas não muito. Você entende, né?
– Claro, bobagem, vai lá. Espero que fique tudo da maneira que você quiser… Depois nos falamos…ou não.
A alternativa ele falou em tom bem baixo e ela não escutou.
Mas que ducha de água fria! Bem feito! Quem mandou já ficar pensando bobagem. Ela é amiga e só. Tem outro, ou pior, tem um enrosco, que é pior do que namorado. Ele ainda poderia correr o risco de ficar naquela zona cinzenta entre amigo e substituto. Não aceitaria isso de modo algum!
Perdeu a fome. Decidiu tomar um café e ir para casa… Tinha uma noite longa pela frente.
O telefone tocou bem tarde.
– Otavio? Desculpe te ligar a essa hora… Tô sozinha aqui na praia. Pode me buscar?
Ele nem viu que horas eram. Estava confuso e não reconheceu a voz de primeira. Mal conseguiu entendê-la entre suspiros e algum choro…
– Onde você está?
– No quiosque do posto 10…
– Me dá quinze minutos…
Mal conseguiu sair da cama. Tinha certeza que estava na pior situação possível: a de amigo e confidente. Mas não poderia deixar de ir.
– Que bom que veio… Aquele filho da …
– OK você veio porque quis e pronto. Sabia que poderia acontecer de tudo. Agora vamos andar um pouco e você vai parar de chorar.
– Tem razão. Você é um cara tão legal, Otávio. Que bom que é meu amigo…
Essa frase bateu como uma marreta na cabeça dele. Apenas uma amiga, outra possibilidade que lhe escapava.
Passou o braço por cima do ombro dela, que ainda derramou algumas lágrimas. Os dois seguiram mudos pelo calçadão, pensando em coisas diferentes.