Só uma olhadinha

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

periscope2

O pôr-do-sol nas margens de um lago no Colorado. Uma aula sobre a montagem de um coque perfeito. Passeio de carro por uma rodovia à beira-mar em algum país onde é dia claro enquanto aqui já anoiteceu. Já deu uma olhadinha por aí hoje? Essa é a proposta do Periscope, um aplicativo para celular (por enquanto apenas para iPhone) lançado no final de março pelo povo do Twitter, uma rede social para transmissões ao vivo, o chamado live streaming. Pode parecer uma ideia besta entrar em mais uma rede para assistir cenas aleatórias em línguas indeterminadas. O fato é que, segundo o CEO do Twitter, Dick Costollo, mais de um milhão de pessoas mundo afora curtiu a ideia e aderiu em menos de dez dias de atividade. Quem aderiu logo no começo percebe facilmente o crescimento exponencial das transmissões, até fácil de explicar. Se você tem uma conta no Twitter, basta baixar um app, dar um clique e – pronto – sua rede de contatos estará ali, pronta para ver e ser vista. Sempre que algum amigo entrar no ar, você recebe um alerta no celular.

Como tudo na internet, o Periscope não está nada imune ao besteirol. Da mesma forma que se multiplicaram pelo Instagram as fotos enfeitadas de comida, bichinhos de estimação (nada contra, acho fofo), asas de avião e pés em ambientes paradisíacos, o Periscope está repleto de material que faz a gente se perguntar uma coisa simples, em primeiro lugar: por que raios essa pessoa resolveu fazer uma transmissão ao vivo da sua noitada em um bar caído em San Juan, Porto Rico. E logo em seguida: por que raios estou vendo isso mesmo? Aparentemente, os primeiros clichês identificáveis são os live streaming de passeios de carro, festas variadas, adolescentes entediados, prontificando-se a responder perguntas dos espectadores. É possível interagir por mensagens e demonstrar apreciação pelo envio de coraçõezinhos.

periscope1

Calma. Antes de descartar a novidade como mais uma bobagem digital, devo dizer que há muito conteúdo válido e pertinente no ar. Mais uma vez, como em tudo relacionado com as redes sociais, é preciso peneirar. Algumas empresas jornalísticas já entenderam todo o potencial que têm nas mãos. Nos dias que seguiram à desolação causada pelo terremoto no Nepal, repórteres da BBC caminhavam pelas ruas de Catmandu entre escombros, com imagens sob a perspectiva de um ser humano bípede diante da devastação, proporcionando uma intimidade que TV nenhuma é capaz de proporcionar. Poucos dias após a aparição do app, o Huffington Post já aproveitava seus recursos em entrevistas com personalidades como a atriz Olivia Wilde (que pertenceu ao elenco de House) e a primatologista Jane Goodall. Ver Goodall, do alto de seus 82 anos discorrendo sobre chimpanzés e meio-ambiente foi uma experiência emocionante.

E os amadores também surpreendem positivamente. Vi uma artista plástica londrina discorrer sobre seu trabalho contemporâneo e responder perguntas pertinentes. Andei pelas ruas de Amsterdam com um turista americano muito bem informado. Recebi um convite para participar de um momento de meditação coletiva. A qualidade das imagens varia muito. Dependendo da conexão, a transmissão pode travar com frequência. Apesar de todas as limitações, como jornalista, estou empolgada com as possibilidades. Por outro lado, antevejo o surgimento de uma terrível fonte de arrependimentos e constrangimentos, com potencial de danos superior ao do proverbial celular na mão de bêbado. Mas nem tudo está perdido. Uma vez concluída a transmissão, os vídeos ficam apenas 24 horas no ar.  (Por Livia de Almeida)

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 LinkedIn 0 Email -- 0 Flares ×

Sem comentários

  • Mariane Almeida disse:

    Lívia, texto enxuto, interessante. Digno de uma boa jornalista. Bom conhecer aos poucos seu estilo que já percebo diferente do de Mauro, ambos conseguem fazer-se sentir. Vc mais impessoal, ele mais afetado às causas. Só ganho pra nós. Obrigada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *