O Brasil está no centro do radar das grandes instituições financeiras internacionais. Além do tamanho e da importância da nossa economia, nunca negada, a liquidez de nossos mercados atraiu investidores desde a década de 1990. Ao longo desse período, nunca deixamos de estar sujeitos a críticas e elogios. No momento, porém, contamos com uma equipe econômica com capacidade muito baixa em fazer projeções, pouca habilidade para absorver críticas e nenhuma humildade para reconhecer o acerto dos outros.
Mais uma vez os bancos JP Morgan e Credit Suisse manifestam seu desapontamento em projeções sobre o crescimento de nossa economia para 2014. As duas instituições calculavam de 2% e 2,1% para o próximo PIB. Seria uma repetição daquilo que deve ser anunciado em relação a 2013. No entanto, os cálculos foram refeitos, levando-se em conta os últimos acontecimentos. Entre eles: o propósito americano de redução do programa de ajuda aos mercados; o desempenho mais fraco da economia chinesa; a inflação que não recua por aqui; a necessidade da elevação dos juros por mais algum tempo, coisa para talvez mais duas reuniões do COPOM; o fraco desempenho da indústria, e a pouquíssima credibilidade do país quanto ao controle de suas contas públicas, o que leva a retração dos investimentos privados. Os dois bancos reviram as contas e reduziram suas projeções para um crescimento de 1,5% em 2014.
A revisão das projeções feitas por essas conhecidas gestoras de recursos em todos os países emergentes tem um peso importante e seus relatórios podem fazer um grande estrago nos mercados, devido às desconfianças dos investidores em relação aos chamados “cinco frágeis” (Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África do Sul), nova nomenclatura usada em contraposição ao famoso BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a demora do Brasil em responder com metas possíveis e factíveis. Não basta o discurso da presidente Dilma em Davos. É preciso encontrar com urgência uma meta factível e consistente para o superávit primário e diretrizes que recuperem a confiança do empresariado nacional.
Mas é ano de eleição. Sobram dúvidas, rareiam as certezas.
É importante lembrar que, em 2012, quando o Credit Suisse projetou um PIB de 1,5% para aquele ano, o ministro Guido Mantega afirmou que os cálculos do banco eram “uma piada” e depois no Senado, também rindo, disse aos parlamentares da oposição que ninguém acertava nada e que ele não tinha bola de cristal. O resultado foi o PIBinho de crescimento de 0,9%.
Fica a pergunta no ar. Ministro Mantega, será que esses relatórios são uma nova piada ou corremos o risco de acabar chorando sobre o leite derramado?