Por Helena Buchman*
Coisas simples podem ter efeitos potentes. Acordar de um sonho bom e imaginar tudo aquilo na vida real. O papel de cada personagem. A cor de cada cena. Gestos, falas. E aí você começa a trabalhar para que a imaginação tome corpo e forma. Você trabalha pelo que quer. Pelo que sonha. A jornada até lá já é uma delícia.
Viver sintonizado na frequência do que gosta é o início. E não subestimar o que te parece tolo. Nas pequenezas da vida podemos encontrar grandeza, por que não? Um sabor que fica na memória. Um cenário de natureza espetacular que faz olhar para fora e para dentro de nós. Uma viagem que desperta a mente, o olfato e os olhos ao mesmo tempo. Uma viagem que divisa o antes e o depois. Que nunca será igual a nada. Até daquele exercício repetitivo na esteira, ou na praia, ao ar livre, se pode depreender o prazer que vem do fazer bem por você. Ainda que os músculos se queixem, o cérebro agradece. Ele também estala.
A vida é cheia de encontros. Às vezes ligeiros, mas intensos. Pessoas que cruzam o caminho e deixam marcas indeléveis. Frases que vêm e vão à cabeça. Outras vezes, o encontro é para todo sempre. Mães e filhos nunca deixarão de ser mães e filhos, ainda que a turbulência desta relação se pronuncie nos primeiros instantes de vida, num choro estridente seguido de noites e noites insones – e cada vez mais insones conforme se deixa de ser um pedacinho de gente para virar gente grande. O prazer de ver alguém desabrochar sob suas asas não tem substantivo à altura. E depois deixar voar e voar.
Estar com gente que a gente gosta e gosta da gente. Dito assim parece tão simples, tão pueril, tão alheio às complexidades deste mundo. De simplicidade não há nada aí. Mas é bom. É bom assim mesmo. E é pleno. Sempre vale viver.
Há momentos, porém, que são só nossos – ninguém tasca, ninguém pega. Aquele dia que passamos de pijama raspando o brigadeiro quente da panela, os pés descalços e os cabelos do jeito que o vento quer. As horas em que mergulhamos na melhor literatura e produzimos imagens e sentimentos que ninguém mais terá. Ou a caminhada à beira-mar que nos leva a caminhar pelo interior de nós mesmos. São esses os instantes da vida em que o que está do lado de fora você nem vê. É justamente quando entende, afinal, o que te faz bem.
Helena Buchman é uma escritora em busca de novas palavras.
Fotos: @fotos_ruins_de_10_paises