Por Helena Buchman*
Sou um ser raro. Carioca de nascimento e paulista de coração. Não que minhas emoções não estejam fincadas no Rio. Não é que não me sinta em casa nesta terra tão cheia de azuis e graça. Ao contrário. O cheiro de maresia é o cheiro da minha infância. Os lugares que percorro são também o trajeto da minha vida. Num canto estudei, no outro cresci, um pouco mais adiante casei, em Laranjeiras tive a primeira filha. O Rio é o Rio.
Vivi em São Paulo por mais de uma década. No começo, me enchia de saudades do cenário de areia e dos chinelos que calçam um povo que sabe extrair de uma calçada e de uma cerveja a felicidade eterna. Mas o tempo passou e com ele vieram as raízes que me ligam a este lugar nervoso feito de pedra e carros. São Paulo não tem beleza óbvia. Assusta. Mas é vibrante, cheia de sabores, plena de opções, repleta de vida e atrai. Tornou-se a cidade onde tudo aconteceu para mim. Trabalho efervescente e até dois filhos nasceram nessas paragens.
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Em São Paulo, aprendi que padaria não é só pão. É um ritual que envolve balcão, conversa, variedade de comida e de tipos. Aprendi também que a natureza pode não se expor com exuberância, mas se revela em ruas arborizadas, parques e jardins espremidos em meio ao concreto. Perder-se naquela diversidade é legal. No centro sujo e decadente você esbarra com alta cultura e elevada gastronomia. Tem ainda a Liberdade, seus sushis e mercadinhos de primeira. A Paulista reserva o MASP, Cezanne e Manet. Atravessando a grande avenida você encontra uma constelação de restaurantes no emaranhado dos Jardins. Pense em qualquer sabor e achará na cidade onde o difícil é escolher. Aliás, se alguém o convida para “passar lá em casa”, passe mesmo. É verdade.
No trânsito, de repente, se esquece de tudo isso. Quer fugir do cheiro de gasolina e da claustrofobia. Pensa em cidades onde as pessoas vêm e vão com muito menos esforço. Mas quando volta a respirar, passa. Pelo menos para mim, passa.
Acabo de me reencontrar com São Paulo. Sinto-me impelida a experimentar o novo neste cenário onde você só esbarra com quem quer esbarrar. Sinto-me também em casa, traçando outros trajetos de minha vida. Quando volto ao Rio, levo esta cidade tão farta em tijolos no coração. Aí vêm o Santos Dumont, o cheiro de maresia, os táxis amarelos, a confusão carioca e a convicção: São Paulo e Rio não são como Fla X Flu. Que bom ter as duas!
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*Helena Buchman é uma escritora em busca de novas palavras.
de tudo um pouco temos em cada frases poesia trechos descritos em cada historia da vida as vezes vividas em paixão amor desilusões fracassos mas tudo e valido pra crescer amadurecer e não cometermos o e mesmo erros do passado.
mas quem manda no coração.