Para se ter crédito, é preciso apresentar um bom nome na praça. É mais ou menos como no ditado “a mulher de César não pode ser somente honesta, tem de parecer honesta”. De maneira bem direta e simples, é assim que as conhecidas Agências de Classificação de Risco dão suas notas para operações, empresas, cidades, estados e países. Essas instituições surgiram em meados do século XIX para suprir de informações os bancos que começavam a crescer e precisavam conhecer seus clientes. Na década de 1950, elas ganharam força com o crescimento dos fundos de pensão nos Estados Unidos e com a popularização dos fundos de investimento. Suas notas de classificação determinavam maior ou menor demanda pelos papéis emitidos, e maior ou menor taxa de juros.
Com a globalização econômico-financeira, ao final da década de 1980 e início dos anos 1990 a importância das agências acentuou-se. A disputa de recursos por todos exigia uma avaliação desse tipo para que os investidores se sentissem mais seguros. Apesar de terem perdido muita credibilidade ao redor do mundo a partir do início dos anos 2000 e com a crise de 2008, suas “notas” são respeitadas e usadas por todos os detentores de recursos.
Para se atingir o cobiçado Investment Grade (Grau de Investimento) que “abre as portas” para volumes importantes de recursos, é necessário que as três principais agências (Fitch, Moody’s e Standard&Poor’s) dêem a classificação que tem diversos graus e que inclui também a cada relatório periódico, um viés (estável, alta ou baixa) para alertar investidores e investidos de como enxergam o momento e o futuro próximo.
As modificações, transformações e reformas passadas pelo Brasil desde a implantação do Plano Real até o final do primeiro mandato do presidente Lula, chamaram a atenção das agências de classificação de risco, que em 2008 alçaram o Brasil ao Grau de Investimento, ainda nos degraus iniciais, mas já com condições de receber maiores recursos de prazo mais longo. E de fato, foi o que aconteceu.
Feita esta introdução e dadas essas explicações, afirmo que o Grau de Investimento conquistado pelo Brasil está ameaçado. O alerta já foi feito: os últimos relatórios da Moody’s e S&P posicionaram o país em viés de baixa. Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI), organismo bastante consultado pelas agências, manifestou preocupação com a situação brasileira.
Quais são os pontos citados pelas agências de classificação e pelo FMI:
- Quatro anos de inflação perto de 6%, sem que o governo tome providências efetivas para convergir o índice para o centro da meta de 4,5%aa;
- Contas externas com declínio de qualidade, principalmente por redução do superávit comercial e dos investimentos diretos, em que um dos fatores mais citados para essas dificuldades é a falta de infraestrutura;
- Queda anual do superávit fiscal, com pouca disciplina por parte do governo e com o emprego de artifícios, que ficaram conhecidos como “contabilidade criativa”, para chegar a indices abaixo do projetado;
- Governo declara que economizará recursos e ninguém acredita, até porque já disse isto em setembro e não fez;
- Política cambial confusa e prejudicial à indústria;
- Falta de planejamento de médio e longo prazo;
- Crescimento econômico pífio e com projeções bem abaixo do esperado pelo governo.
Novos relatórios serão divulgados em 2014, ano de eleição, quando historicamente os gastos costumam ser maiores; a inflação, mais alta, e medidas eleitoreiras dominam o cenário.
Não me espantaria se o país perdesse seu Grau de Investimento. É esperar para ver.
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